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Depois de Paris, terror em Bruxelas

O Estado Islâmico atinge o Ocidente mais uma vez, instigando as respostas extremistas que ajudam a perpetuar o caos

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Bruxelas, capital da Bélgica e sede das principais instituições da União Europeia, amanheceu nesta terça-feira 22 como palco de uma carnificina. Depois de conseguir atingir Paris em novembro de 2015, o Estado Islâmico, organização que floresceu em meio ao caos no Iraque e na Síria, atacou o aeroporto Zaventem e a estação de metrô Maalbeek, deixando ao menos 34 mortos e quase 200 feridos.

O aeroporto Zaventem foi alvo de uma dupla explosão, ocorrida por volta das 8 horas da manhã no horário local, 4 horas da manhã de Brasília. O alvo era o saguão que antecede o embarque, com medidas de segurança mais frágeis que a área posterior, dos passageiros já liberados para viajar.

Testemunhas relataram ter visto vítimas em meio a poças de sangue e corpos mutilados. “Um homem gritou palavras em árabe e ouvi uma grande explosão”, contou à AFP Alphonse Lyoura, que trabalha na segurança das bagagens dos voos à África e se encontrava perto do local da primeira explosão.

“Era o pânico geral. Me escondi e esperei cinco, seis minutos. Algumas pessoas vieram me pedir ajuda”, acrescentou, com as mãos ainda ensanguentadas. “Ajudei ao menos sete feridos. Retiraram cinco corpos que já não se moviam”, prosseguiu, explicando que “muitos perderam as pernas”. 

Valérien, outra testemunha, disse à agência ter visto “feridos por todo lado”. “Vi uma mãe que não tinha ferimentos, mas seu filho estava ferido”, afirmou. “Todos fugiam, todos buscavam um lugar para se esconder. Era o descontrole total”, afirmou Michel Mpoy, de 65 anos e que foi ao aeroporto buscar um amigo que chegava da República Democrática do Congo.

No aeroporto, 10 pessoas morreram e 92 ficaram feridas, um estrago que poderia ter sido ainda maior. Autoridades encontraram no local um colete bomba não detonado e ao menos um fuzil kalashnikov, semelhante aos usados nos ataques de novembro, em Paris.

O segundo ataque ocorreu por volta das 9 horas da manhã locais, na estação de metrô Maalbeek, no coração do bairro europeu de Bruxelas, que sedia instituições como a Comissão Europeia, o órgão executivo da União Europeia. 

Um jornalista da AFP viu quinze pessoas no chão recebendo os primeiros socorros. Muitas delas tinham o rosto ensanguentado, algumas choravam. Imagens transmitidas pela televisão mostravam um vagão de metrô completamente destruído. Outro trem que circulava na direção contrária também foi danificado, segundo a companhia de transporte. Na estação, o balanço mais atual dá conta de 20 mortos e 106 feridos.

Caos e selvageria

Horas depois dos atentados, o Estado Islâmico reivindicou a autoria do ataque por meio da “Agência Amaq”, um de seus principais braços midiáticos.

O ISIS, como também é conhecida a organização, identifica a Bélgica como “um país participando da coalizão internacional contra o Estado Islâmico” e diz que os terroristas “abriram fogo dentro do aeroporto Zaventem, antes que vários deles detonassem seus explosivos”, enquanto um outro homem “detonou seu cinto explosivo na estação de metrô Maalbeek”.

O ataque faz parte da estratégia adotada pela liderança do Estado Islâmico, em grande medida baseada no texto Gerenciado o Caos ou Gerenciando a Selvageria, uma obra seminal do pensamento jihadista que prega, entre outras coisas, o ataques a civis e a alvos desprevenidos.

O objetivo é um só: provocar e atrair tropas ocidentais para o combate corpo a corpo no Oriente Médio, região convulsionada por intervenções estrangeiras, regimes autoritários e radicalismo religioso, exatamente o ambiente onde grupos como o Estado Islâmico se desenvolvem.

A estratégia conta com o terror da população e o ímpeto por vingança dos líderes ocidentais. Hoje, uma intervenção militar terrestre contra o Estado Islâmico não é cogitada pelos governantes de Estados Unidos e dos países mais relevantes da Europa, mas essa situação pode mudar. Em novembro, os EUA vão às urnas e Donald Trump, que prometeu “cortar a cabeça” do ISIS pode vir a se candidato pelo Partido Republicano, com chances reais de vitória.

Enquanto não consegue o objetivo de fomentar uma intervenção, o Estado Islâmico certamente se regozijará da maior pressão sobre os imigrantes e os muçulmanos em geral. Em grande medida, a alienação dessa comunidade é um fator para explicar o terrorismo na Europa, como deixou claro o ataque de novembro em Paris: todos os envolvidos identificados até aqui, incluindo Salah Abdeslam, preso na sexta-feira passada, são europeus de nascimento.

A reação anti-imigrantes é mais comum na Europa, que vem tomando medidas desesperadas para estancar a chegada de imigrantes. Apenas duas horas depois do ataque, Mike Hookem, porta-voz do Ukip, partido de extrema-direita do Reino Unido, divulgou uma mensagem afirmando que este “ato horrível de terrorismo mostra que a área de livre circulação de Schengen e controles nas frouxos nas fronteiras são uma ameaça à nossa segurança”.

Do outro lado do Atlântico, no entanto, também surgem manifestações xenofóbicas e autoritárias. Ted Cruz, possível opção mais “moderada” do Partido Republicano para conter Trump, divulgou uma nota lamentando os atentados e sugerindo que a polícia norte-americana “patrulhe e proteja bairros muçulmanos antes que se tornem radicalizados”. É música música para os ouvidos dos jihadistas, e uma indicação de que o mundo ocidental está longe de ter respostas eficientes para o fenômeno do islã radical.

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