Sociedade
Lorenna Vieira acusa banco Itaú de racismo: “Humilhada e esculachada”
Empresária e esposa do DJ Rennan da Penha diz ter sido conduzida à delegacia após tentar sacar 1.500 reais de sua conta
A empresária Lorenna Vieira, esposa do DJ Rennan da Penha, afirmou ter sido vítima de preconceito e racismo em uma agência do banco Itaú, na quinta-feira 30. Em sua conta no Twitter, ela escreveu que foi retirada da agência pela Polícia Civil, “humilhada e esculachada”, por suspeita de fraude.
“Fui retirada do banco Itaú pela Polícia Civil. Humilhada e esculachada por minha conta receber um bom dinheiro. E segundo eles, é fraude e mais várias coisas. Meu dinheiro está preso e eu quase fui presa por nada!!!!!! Não é porque eu sou preta e humilde que eu sou criminosa!!!”, publicou a empresária. “Itaú, e seus funcionários, racistas ou não? Preconceituosos ou não? Me fizeram esperar até o banco fechar, dizendo que estavam resolvendo meu problema e chamaram a polícia??????”, protestou.
Fui retirada do banco @itau pela polícia civil
Humilhada e esculachada
Por minha conta receber um bom dinheiro
E segunda eles, é FRAUDE E MAIS VÁRIAS COISAS
Meu dinheiro está PRESO e eu quase fui PRESA por NADA!!!!!!
Não é pq eu sou preta e humilde que eu sou criminosa!!!— Lorena (@badgallore) January 30, 2020
Ao site G1, Lorenna contou que foi a uma agência no bairro da Penha, na zona Norte do Rio de Janeiro, para desbloquear um cartão e sacar 1.500 reais. Segundo ela, as funcionárias acharam que as movimentações financeiras em sua conta eram suspeitas.
“Eu fui ao banco tirar um dinheiro e desbloquear um cartão, porque perdi cartão e o outro não chegou na minha casa. Eu tive que ir lá buscar. Chegando lá, deu que estava bloqueado. Aí elas (as funcionárias) começaram a falar ‘ah, o banco pode achar que é fraude, que você é laranja’ e me deixaram lá esperando'”, afirmou ela ao veículo.
Ela diz que, em seguida, as funcionárias disseram que só faltava “mais 15 minutinhos” para o problema ser resolvido. Então, três policiais apareceram e Lorenna foi levada para a delegacia, sem receber maiores explicações ou avisos.
“Elas [as funcionárias] estavam falando que ‘entrou uma quantidade de dinheiro e a gente não sabe de onde vem’. Eu fiquei sem entender. Eles começaram a cochichar, os funcionários do banco começaram a me olhar. Eu não estava entendendo. A funcionária falou para a gente esperar um pouco e saiu. Ela não voltou mais, quem voltou foi a Polícia Civil. Três policiais falando para eu ir para a delegacia”, disse ao G1.
Ela narra que, ao chegar à delegacia, apresentou sua carteira de identidade e o policial falou que “era quase impossível” saber se a foto era real, porque seu cabelo estava liso na imagem. O PM teria dito ainda que ela deveria jogar sua carteira fora e fazer outra com seu cabelo natural. “Se é uma pessoa branca que tem o cabelo alisado e depois deixa encaracolar, ninguém faria isso”, disse ao site.
Em nota, o banco Itaú afirmou que o procedimento adotado na agência “é padrão” e disse que é contra atos discriminatórios. “O Itaú lamenta pelos transtornos causados a Lorenna Vieira nesta quinta-feira, no Rio de Janeiro, e já entrou em contato com ela para resolver a situação. O Itaú esclarece que o procedimento adotado na agência é padrão em casos de suspeita de fraude, e não tem qualquer relação com questões de raça ou gênero. O Itaú acredita que toda forma de discriminação deve ser combatida”, escreveu a empresa.
Lorenna manifestou-se publicamente contra a nota do Itaú e contestou a alegação de que um “procedimento padrão” foi seguido pela agência.
“Procedimento padrão? Dizer que está resolvendo meu problema, me fazer esperar até depois do horário de fechar o banco. Não me informar o que estava acontecendo, mentir pra me prender lá, não deixar eu sair e chamar a Polícia Civil? Isso é procedimento padrão? Não poderia ser de outro jeito? De um jeito mais humano? Me contar o que vocês estavam pensando sobre mim? O jeito era simplesmente chamar a Polícia Civil pra eu ser retirada dali como uma criminosa, humilhada?”, escreveu.
Ser de outro jeito? De um jeito mais humano???? Me contar o que vocês estavam pensando sobre mim????? O jeito era simplesmente chamar a polícia civil pra eu ser retirada dali como uma criminosa, humilhada???????
Ah não, agora sim fiquei puta!— Lorena (@badgallore) January 31, 2020
O episódio figurou entre os assuntos mais comentados do Twitter nesta sexta-feira 31. Algumas figuras públicas demonstraram indignação com a conduta dos funcionários da agência. O ator José de Abreu, por exemplo, anunciou que solicitou o cancelamento de sua conta no banco, e o youtuber Felipe Neto cobrou explicações da empresa.
Acabo de enviar para a gerente de minha conta no Itau Personnalité:
“Em função da postura racista do Banco, quero encerrar minha conta. Estou baixando todas as minhas aplicações e não sei como faço com a previdência que não posso mexer Pode me ajudar?”@itau https://t.co/PqOa6QrknA— José de Abreu (@zehdeabreu) January 31, 2020
Os deputados federais Paulo Pimenta (PT-RS), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Sâmia Bomfim (PSOL-SP) também publicaram notas em defesa de Lorenna. No Instagram, dezenas de internautas publicam comentários nas fotos da conta da empresa para denunciar o caso de racismo.
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