Mundo
“Esse vírus não distingue entre governantes e governados”, diz presidente argentino a Bolsonaro
Alberto Fernández, que lidou com pandemia de modo oposto ao Brasil, escreveu carta na qual deseja uma rápida recuperação a Jair Bolsonaro
O presidente argentino Alberto Fernández assinou, nesta terça-feira 07, uma carta direcionada a Jair Bolsonaro ao saber que o presidente brasileiro obteve a confirmação de covid-19. O documento diz que Fernández, criticado por Bolsonaro por ser ligado ao peronismo e à esquerda argentina, recebeu a notícia “com muito pesar”.
“Estimado presidente. Com muito pesar tive conhecimento que você foi infectado pela covid-19. Quero expressar meus desejos de que se recupere muito rapidamente”, diz a carta. O documento foi publicado nas redes sociais do Ministério de Relações Exteriores da Argentina.
O presidente escreve ainda que os perigos da pandemia ainda estão presentes nos níveis de contágio pelo coronavírus, que “não distingue entre governantes e governados”.
A Argentina encontra-se em um nível diferenciado do Brasil em relação ao avanço da pandemia desde o começo, mesmo tendo registrado a primeira morte na América Latina.
O país passou por restritos períodos de lockdown e registrava, até esta terça, 80.447 casos confirmados e 1.582 mortes registradas, segundo os dados compilados pela Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos.
Apesar disso, o país vizinho observa com cautela o novo recorde de 75 mortes em 24h, batido na segunda-feira. Mesmo assim, a cifra passa longe dos números brasileiros.
“Todas e todos estamos ameaçados e por isso devem ser tomados cuidados. Acredito que assim entendem nossos povos que enfrentam essa tragédia com integridade e responsabilidade”, complementa o recado de Fernández. “Nessa hora difícil, receba meu cumprimento e toda minha solidariedade com o povo do Brasil”.
Mensaje del Presidente @alferdez al Presidente de Brasil @jairbolsonaro. pic.twitter.com/X5qmQWHyaX
— Cancillería Argentina 🇦🇷 (@CancilleriaARG) July 7, 2020
Fernández também já demonstrou no passado ser crítico das políticas de Jair Bolsonaro em relação a pandemia e, em espectro maior, de seu posicionamento político à extrema-direita. Em março, o argentino mencionou que o País poderia seguir o mesmo caminho da Itália caso não seguisse as recomendações de quarentena, que já eram minimizadas por Bolsonaro em nome da abertura econômica, e que isso poderia ser um risco para a América do Sul.
O Brasil ultrapassou a Itália em número de mortes no começo de junho e, um mês depois, já vê os números da tragédia serem o dobro do registrado naquela época. Já são 66.741 mortes e mais de 1.6 milhão de infectados confirmados, segundo dados do Conass.
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