Política

Estudo apresentado na CPI mostra que 120 mil mortes por Covid poderiam ter sido evitadas

O distanciamento e outras medidas teriam reduzido a perda de vidas; estudo também indica desigualdade sanitária baseada em raça e classe

Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
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Um estudo apresentado pela médica Jurema Werneck na CPI da Covid nesta quinta-feira 24 mostrou que, com medidas mais enfáticas de distanciamento social e restrições a aglomerações, pelo menos 120 mil mortes por coronavírus poderiam ter sido poupadas.

A nota técnica Mortes evitáveis por Covid-19 no Brasil foi encomendada pelo grupo Alerta, que reúne sete entidades da sociedade civil — incluindo a Anistia Internacional, da qual Werneck é diretora-executiva. O perí

Os pesquisadores calcularam o excesso de mortes nos primeiros 12 meses da pandemia no Brasil, entre março de 2020 e março de 2021 no Brasil. E também os impactos da negligência com as chamadas medidas não-farmacológicas, adotadas amplamente ao redor do mundo para diminuir a disseminação do vírus.

Para o primeiro cenário, foram registradas 305 mil mortes a mais do que a média. O dado é importante por não incluir somente as mortes diretamente causadas pelo coronavírus, mas também os óbitos indiretos, provocados pelo atraso no diagnóstico ou falta de tratamento por conta da saturação do sistema de saúde.

A segunda análise, levou em conta os índices de transmissão do vírus e cálculos feitos por estudiosos do mundo inteiro acerca da efetividade do distanciamento social e de outras medidas. Chegando, então, ao número de 120 mil vítimas que poderiam ter sido salvas no País.

O excesso de mortalidade, explicam os especialistas, não permite uma estimativa direta do número de óbitos que poderiam ser evitados “porque não existem medidas de prevenção e tratamento que sejam 100% eficazes”. Mesmo assim, ressaltam, uma parcela importante do excedente de mortes poderia ser evitada com a implementação de medidas sanitárias “amplas, duradouras e intensas, em conjunto com ações de vigilância de casos e contatos e testagem sistemática e oportuna da população”, escrevem.

 

Em seu depoimento à CPI, Jurema Werneck destacou que as estimativas não tratam apenas de números. “São pais, mães, irmãos, sobrinhos, tios, vizinhos, gente que eu não conheço, mas habita esse país como eu”, defendeu. “A gente poderia ter salvo pessoas se uma política efetiva de controle, baseada em ações não farmacológicas tivesse sido implementada.”

O peso da desigualdade racial

Os resultados indicam ainda que a eficácia das políticas de testagem e a prestação de serviços hospitalares também variou conforme perfis de raça e classe. Em novembro de 2020, por exemplo, quem recebia mais de quatro salários mínimo fez quatro vezes mais testes do que o segmento que vive com menos de meio salário mínimo.

Ao longo do período analisado, mais de 20 mil óbitos registrados foram identificados como mortes em unidades pré-hospitalares ou emergenciais — ou seja, sem leito específico para o tratamento da Covid-19. Dessas vítimas, 13% eram negros, indígenas e amarelos; os brancos foram cerca de 9%. Quase todas estavam em estabelecimentos públicos.

Leia o estudo completo.

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