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Lua cheia

Após 50 anos, as missões tripuladas e a colonização do satélite voltam à agenda espacial

Recomeço. O lançamento da Artemis I, que levou uma cápsula à órbita lunar, é a primeira etapa do programa da Nasa - Imagem: ULA/Artemis e NASA
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Dentro de algumas semanas, a Nasa vai comemorar um aniversário especial. Cinquenta anos atrás, os últimos astronautas a visitar a Lua retornaram à Terra e deixaram lá os últimos sinais claros de que a nossa espécie visitou outro mundo. Durante três dias, em dezembro de 1972, os tripulantes da Apollo 17, Gene Cernan e Harrison “Jack” Schmitt, exploraram o vale ­Taurus-Littrow na Lua. Viajaram mais de 30 quilômetros em seu veículo lunar, enquanto coletavam mais de 100 quilos de rochas antes de retornar.

Então, em 14 de dezembro, o geólogo Schmitt voltou ao módulo lunar da missão, enquanto Cernan fazia um breve discurso que foi transmitido para a Terra. “Retornaremos, com paz e esperança para toda a humanidade”, prometeu. Cernan fechou a escotilha da espaçonave e, após ajustar os controles, pressionou o botão amarelo de ignição da nave e pronunciou as últimas palavras que um humano falaria na Lua pelo resto do século XX: “Ok, Jack, vamos tirar esse ‘troço’ daqui”.

Dentro de algumas semanas, a Nasa vai comemorar um aniversário especial. Cinquenta anos atrás, os últimos astronautas a visitar a Lua retornaram à Terra e deixaram lá os últimos sinais claros de que a nossa espécie visitou outro mundo. Durante três dias, em dezembro de 1972, os tripulantes da Apollo 17, Gene Cernan e Harrison “Jack” Schmitt, exploraram o vale ­Taurus-Littrow na Lua. Viajaram mais de 30 quilômetros em seu veículo lunar, enquanto coletavam mais de 100 quilos de rochas antes de retornar.

Então, em 14 de dezembro, o geólogo Schmitt voltou ao módulo lunar da missão, enquanto Cernan fazia um breve discurso que foi transmitido para a Terra. “Retornaremos, com paz e esperança para toda a humanidade”, prometeu. Cernan fechou a escotilha da espaçonave e, após ajustar os controles, pressionou o botão amarelo de ignição da nave e pronunciou as últimas palavras que um humano falaria na Lua pelo resto do século XX: “Ok, Jack, vamos tirar esse ‘troço’ daqui”.

Seu módulo de pouso, o Challenger, voou para a órbita lunar e atracou na nave de comando da missão, de nome ­America. Quando a Apollo 17 começou sua jornada de volta para casa, os astronautas deram uma coletiva à imprensa televisionada. Não foi um sucesso global. “Aparentemente, éramos notícia de ontem, porque as emissoras não encontraram tempo para nos pôr no ar”, lembrou Cernan. Assim, a humanidade deu as costas aos últimos moonwalkers antes mesmo de voltarem ao seu planeta natal.

O mundo tinha ficado paralisado pela Apollo 11, três anos antes. Mas depois de uma série de novas missões lunares tripuladas, o tédio instalou-se. As Apollo 18, 19 e 20 foram canceladas e a Apollo 17 foi decretada como a última missão, embora pareça que esse detalhe tenha escapado da atenção do público dos Estados Unidos quando a data de lançamento chegou. Quando a CBS cortou sua série dramática Medical Center para mostrar o lançamento da Apollo 17, em 7 de dezembro de 1972, a rede foi bombardeada por reclamações, e sete dias depois a NBC, em vez de mostrar os últimos passos de Cernan na Lua, optou por transmitir uma reprise do show de Johnny Carson.

Foi um final humilhante para o programa Apollo. Por sua vez, Cernan, que morreu em 2017, ficou amargurado com a rejeição do público e foi feroz ao expressar sua decepção por ter-se tornado o último a pisar na Lua. “É uma honra muito duvidosa”, disse ao Observer em 2002. “Isso nos diz o quanto não fizemos, em vez de o quanto fizemos.”

Portanto, é irônico que o aniversário do pouso da Apollo 17 coincida com uma missão que pretende anunciar o retorno dos seres humanos à Lua, embora meio século depois. O Artemis 1 explodiu uma cápsula Orion não tripulada em uma missão de 25 dias além da órbita da Lua. Está programado para retornar à Terra em 11 de dezembro, exatamente a data em que, há 50 anos, os astronautas da Apollo 17 pousaram no Taurus-Littrow. Se tudo correr bem e os sistemas da Orion funcionarem como esperado, uma missão de acompanhamento, Artemis 2, colocará uma cápsula Orion tripulada em curso para um sobrevoo lunar em 2024, com Artemis 3 a rea­lizar um pouso tripulado no ano seguinte. De acordo com esse cronograma, os humanos retornarão à Lua após um intervalo de 53 anos, embora, devido ao conturbado histórico de atrasos do programa Artemis, o intervalo possa ser ainda maior.

A ideia é preparar um trampolim para futuros voos a Marte

Após esses voos, novas missões serão lançadas com o objetivo de estabelecer o Lunar Gateway, estação espacial tripulada que orbitará a Lua, bem como um posto avançado científico permanente na superfície. Também começará o trabalho para enviar humanos da Lua para Marte. Além disso, a Nasa, em colaboração com agências espaciais da Europa, Japão e Canadá, iniciará uma série de voos robóticos lançados por diversos países e empresas privadas. As missões incluirão pousadores e orbitadores que examinarão a Lua em busca de sinais de água, depósitos minerais e outros recursos para preparar futuras missões de longa duração.

Isso incluirá a Missão de Exploração Polar Lunar, espaçonave robótica, projetada em conjunto pelas agências espaciais indiana e japonesa, que lançará um veículo lunar para explorar a região do polo sul da Lua no próximo ano. Além disso, a Rússia também planeja o retorno lunar após um intervalo de 46 anos com sua missão Luna 25, que investigará a composição do solo.

De repente, todos decidiram ir para a Lua, embora esse grande retorno não seja isento de controvérsias. Deveríamos dar tanta ênfase a colocar humanos na Lua? Caso positivo, como podemos justificar os altos custos da colonização? Devemos, em vez disso, confiar em robôs para explorar seus recursos? E qual deve ser o papel da iniciativa privada no envio de seres humanos ao espaço? Essas questões revelam grandes divisões entre os cientistas.

Aqueles que acreditam que devemos confiar em dispositivos automatizados e pousadores e evitar o envolvimento humano incluem o astrônomo real britânico Martin Rees e o astrônomo norte-americano Donald Goldsmith. Eles apontam para o enorme custo de uma única missão Artemis: cerca de 2 bilhões de dólares. Além disso, há o preço envolvido em manter os humanos vivos no espaço. “Astronautas precisam de muito mais manutenção do que os robôs, simplesmente porque suas jornadas e operações de superfície requerem ar, água, comida, espaço vital e proteção contra a radiação nociva”, afirma a dupla no recente livro The End of Astronauts: Why Robots Are the Future of Exploration (O Fim dos Astronautas: Por Que os Robôs São o Futuro da Exploração).

Outros discordam. O legado das missões Apollo, em particular a Apollo 17, que passou mais tempo na Lua, foi imenso, disse o cientista planetário Ian ­Crawford, professor do Birkbeck ­College London. “Cernan e Schmitt viajaram mais de 30 quilômetros sobre a superfície da Lua em seu rover. Em comparação, os robôs rover que enviamos a Marte levam anos para cobrir as mesmas distâncias. O programa Apollo lançou as bases da ciência planetária moderna, e precisamos voltar à Lua para construir sobre o que eles começaram.” •


Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1236 DE CARTACAPITAL, EM 30 DE NOVEMBRO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Lua cheia”

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