Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Álbum resgata show de João Gilberto com 36 canções e impecável performance

Na apresentação, que aconteceu em 1998, o cantor percorre seu repertório habitual com autoridade musical habitual

Foto: Divulgação
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Trata-se de um álbum duplo com 36 canções, que resgata o áudio de um show que João Gilberto fez na unidade Vila Mariana do Sesc São Paulo, em 1998. Obviamente, foi remasterizado e formatado para sair na plataforma digital.

Mas a qualidade sonora da gravação impressiona. João ajuda muito nisso. Suas apresentações sempre pareceram álbuns com toda a qualidade técnica. O teatro ajudou também – é um dos melhores espaços de shows pela sua acústica da rede Sesc. 

Na gravação, como em muitas que fez, é em voz e violão. Impecável performance, como sempre. O registro do Selo Sesc faz parte de um projeto chamado Relicário, no qual serão apresentados áudios resgatados de shows históricos realizados em unidades do Sesc nas décadas de 1970, 1980 e 1990 e tem como primeiro lançamento esta apresentação de João Gilberto.

No álbum, disponível na plataforma do Sesc Digital desde o último dia 5, há uma faixa inédita em disco: Rei Sem Coroa (Herivelto Martins e Waldemar Ressurreição), que chegou a ser gravada em 1945 por Francisco Alves. 

O álbum póstumo mais uma vez revela a procura incessante de João Gilberto por antigos autores ligados à fase anterior a dele na música brasileira com faixas já conhecidas: Isto Aqui o Que É? (Ary Barroso), Izaura (Herivelto Martins e Roberto Roberti), Aos Pés da Cruz (Zé da Zilda e Marino Pinto), Louco (Henrique de Almeida e Wilson Baptista), Pra que Discutir com Madame (Janet de Almeida e Ary Vidal), Preconceito (Marino Pinto e Wilson Batista), Carinhoso (Pixinguinha e Braguinha), A Primeira Vez (Bide e Armando Marçal), entre outros. 

Tem ainda a execução da obra de Dorival Caymmi, frequente no repertório de João: Doralice, Rosa Morena, Saudade da Bahia e Lá Vem a Baiana. Há uma instrumental, Um Abraço no Bonfá, rara composição de João Gilberto, em uma homenagem ao também exímio violonista.

E, claro, os clássicos da Bossa Nova: Corcovado, Wave, Esse seu Olhar (Tom Jobim), Retrato em Branco e Preto (Tom Jobim e Chico Buarque), O Amor em Paz, Chega de Saudade, Eu Sei que Vou te Amar (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), Meditação, Samba de uma Nota Só, Caminhos Cruzados e Desafinado (estas de Tom Jobim e Newton Mendonça).

O registro histórico de João Gilberto tem duas horas de duração com a voz e violão únicos do cantor. Há cortes entre uma música e outra, mas aparecem os aplausos e assovios esfuziantes no fim de cada canção executada. Mas no fim do álbum, aplausos no começo das canções são também ouvidos, já que João passa a interagir com o público.

No bloco final, já dominado pela Bossa Nova, ele destaca o fato de o público cantar parte de Chega de Saudade com ele ao violão: “Eu adoro esse coral, eu gosto disto. Às vezes quero pedir, mas fico com vergonha”. Após a fala de João, alguém grita Wave e parte do público já pede silêncio.

Uma canção depois, Eu Sei que Vou te Amar abre com aplauso, com o público acompanha numa parte com João ao violão, assim como – e finalmente – Wave e Esse Seu Olhar, que encerram o álbum. 

Ouve-se apenas uma vez o cantor reclamando da afinação do violão. A gravação mostra ainda em determinada hora ele chamando alguém da produção ao palco, mas não fica claro o que ocorreu. 

Vazam algumas pessoas do público tossindo ao longo do registro tamanho o silêncio predominante. Ouvir João Gilberto é uma prece. O álbum é enigmático, como tudo que o cantor se propôs a fazer no palco e no estúdio.

No dia 26 o álbum completo também estará disponível nas plataformas de streaming, assim como versão física em CD (a capa é um grafite de João Gilberto do artista visual Speto). O site do Sesc São Paulo também disponibilizou o contexto histórico da gravação, através de textos, vídeos, fotografias e material iconográfico.

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