Mundo
Combates entre Exército e paramilitares deixam quase 200 mortos no Sudão
Nesta segunda, Estados Unidos e Reino Unido pediram o ‘fim imediato’ da violência, a exemplo do que haviam feito a Liga Árabe e a União Africana
![](https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2023/04/000_33DD7AZ.jpg)
Ao menos 185 pessoas morreram e cerca de 1.800 ficaram feridas nos intensos combates que começaram há três dias entre o Exército e um poderoso grupo paramilitar no Sudão, informou o chefe da missão da ONU no país, Volker Perthes, nesta segunda-feira 17.
Pelo menos dois hospitais da capital foram evacuados “enquanto foguetes e balas crivavam suas paredes”, disseram os médicos, que alegam ter ficado sem bolsas de sangue e material para cuidar dos feridos.
Mais cedo, o sindicato oficial dos médicos havia contabilizado ao menos 97 civis mortos, cerca de metade em Cartum, além de “dezenas” de combatentes. Também registrou 942 feridos.
Nesta segunda, Estados Unidos e Reino Unido pediram o “fim imediato” da violência no Sudão, a exemplo do que haviam feito a Liga Árabe e a União Africana.
O conflito no Sudão envolve o comandante do Exército, general Abdel Fatah al Burhan, líder de fato do país, e seu número dois, o general Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como “Hemedti”, comandante das Forças de Apoio Rápido.
Em outubro de 2021, eles se juntaram para dar um golpe que tirou os civis do poder.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, também instou os dois generais a “pararem imediatamente com as hostilidades”, que podem ser “devastadoras para o país e toda a região”.
As Nações Unidas suspenderam as operações no país, segundo o porta-voz do secretário-geral, Stéphane Dujarric. Ele ressaltou que a ONU “não vai pedir ao seu pessoal que vá trabalhar quando, claramente, a segurança não está garantida”.
À noite, o alto representante da União Europeia para Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, informou pelo Twitter que o embaixador do bloco em Cartum, o irlandês Aidan O’Hara, havia sido atacado em casa. De acordo com o serviço diplomático da UE, ele está bem.
Cortes de eletricidade em hospitais
Nesta segunda-feira, ainda era impossível dizer quem controla o quê. As FAR alegam ter tomado o aeroporto e entrado no palácio presidencial, o que o Exército nega. Por sua vez, o Exército afirma controlar o quartel-general de seu Estado-Maior, um dos principais complexos do poder em Cartum.
A televisão estatal, depois de dois dias de combates nas suas imediações, transmite imagens e declarações do Exército, que afirma ter recuperado terreno em muitos lugares.
Médicos e organizações humanitárias alertaram que em algumas áreas de Cartum a eletricidade e a água estão cortadas e que há interrupções de energia nas salas de cirurgia.
Os pacientes, alguns deles crianças, e suas famílias “não têm comida nem água”, declarou uma rede pró-democrática de médicos.
Dois gregos ficaram feridos em Cartum e cerca de 15 pessoas estão escondidas na igreja ortodoxa da cidade, impossibilitadas de sair por causa dos combates, informou o arcebispo metropolitano de Núbia e de todo o Sudão, monsenhor Savvas, que está dentro da igreja.
Combates em toda a cidade
O Programa Mundial de Alimentos suspendeu a ajuda no domingo, após a morte de três membros de sua equipe nos combates da província de Darfur, apesar de mais de um terço dos 45 milhões de sudaneses precisar de ajuda humanitária.
“Esta é a primeira vez na história do Sudão desde sua independência (em 1956) que se observa tal nível de violência no centro de Cartum”, declarou à AFP Kholood Khair, fundadora do centro de pesquisas Confluence Advisory.
A capital sudanesa “sempre foi o lugar mais seguro do Sudão”, mas agora “há combates por todos os lados, inclusive em áreas densamente povoadas, porque os beligerantes acreditam que um alto número de civis mortos deterá o outro lado”, acrescentou.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.