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Em tom de homenagem

‘Meu Nome É Gal’ reverencia a turma da Tropicália e retrata o ambiente cultural e político durante a ditadura

Os atores Rodrigo Lelis e Sophie Charlotte vivem Caetano e Gal nessa nova cinebiografia – Imagem: Stella Carvalho
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Os letreiros finais de Meu Nome É Gal, em cartaz desde a quinta-feira 12, indicam, a um só tempo, a força e as fragilidades desse projeto: trata-se de um filme-homenagem.

Dirigido e escrito por Dandara Ferreira e Lô Politi, o longa-metragem nasceu de um desejo da própria cantora. “Meu Nome É Gal foi feito e pensado para ela sentar na sala de cinema e se divertir revivendo a sua história”, conta, no material de divulgação, Dandara, que dirigira antes a série documental O Nome Dela É Gal (HBO) – que levou a artista a manifestar o desejo de se ver em um filme.

Quando Gal morreu, em novembro de 2022, as diretoras já tinham um corte, mas ela não chegou a vê-lo pronto. Provavelmente, teria adorado esse retrato que é quase uma declaração de amor, não apenas a Gal, vivida por Sophie ­Charlotte, mas ao grupo de artistas que, nas décadas de 1960 e 1970, mudou os parâmetros musicais e comportamentais no País.

Giram, em torno da personagem principal, Caetano Veloso (Rodrigo Lelis), Maria Bethânia (Dandara Ferreira), Gilberto Gil (Dan Ferreira), Dedé Gadelha (Camila Mardila), o empresário Guilherme Araújo (Luis Lobianco) e muitos dos nomes que entrariam para a história do que passou a ser chamado de MPB.

Muitas dessas figuras fizeram também parte da vida da Dandara, nascida na Bahia, em uma casa frequentada por Gil e Caetano. Ela conta, inclusive, que foi Caetano quem a apresentou a Gal. Há, não por acaso, certa reverência a transbordar na tela.

A trama se detém sobre um período curto, e bem escolhido: vai de 1966 a 1971, momento que marca a saída de Gal da Bahia e o nascimento de sua persona artística. Vemos a transformação de Maria da Graça Costa Penna Burgos, a Gracinha, em Gal Costa.

O roteiro apoia-se, no embate entre a timidez e o desejo de, simplesmente, cantar da protagonista e a ousadia e o ímpeto de Caetano. A jornada da heroína se completa quando a Tropicália explode e a ditadura endurece. A partir daí, a “borboleta sai do casulo” – para usar uma frase dita por Guilherme, o personagem.

Essa breve e intensa história é contada com grande energia e com um ótimo elenco – no qual foram desconsideradas por completo as semelhanças físicas entre atores e personagens reais.

A trilha, familiar a todos os brasileiros, tem como pontos fortes as próprias músicas. Mas incomoda, em alguns trechos específicos das canções, um certo descompasso entre o gestual vocal de ­Sophie – encantadora no papel – e a extensão da voz de Gal. •

Publicado na edição n° 1281 de CartaCapital, em 18 de outubro de 2023.

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