Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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DJ Zé Pedro: ‘Gravadoras não querem mais fazer disco com começo, meio e fim’

Produtor lança livro autobiográfico e com uma seleção de canções de amor dos anos 1970: ‘É a face do garoto melancólico’

Foto: Divulgação/Luciana Prezia
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DJ Zé Pedro começou ouvindo Maria Bethânia, depois Maria Creuza, Alaíde Costa, Claudete Soares, Gal Costa, Elis Regina, se estendendo até cantoras internacionais como Gladys Knight, Lolleatta Holloway, Minnie Riperton, Thelma Houston e por aí vai.

Ainda jovem, já conhecia um amplo espectro musical. Não à toa, quando, em 1988, “foi jogado na profissão de DJ” na boate em que trabalhava no caixa – a Crepúsculo de Cubatão, em Copacabana -, o sucesso nas pistas veio rápido, e ele se tornou um dos mais requisitados nos anos 1990.

Há poucas semanas, Zé Pedro lançou o livro Mela Cueca – As Canções de Amor que o Mundo Esqueceu (Garota FM Books). Ele abre a obra com uma bem-humorada autobiografia e depois relaciona músicas internacionais açucaradas ou de fossa dos anos 1970, fazendo breves comentários em cada uma delas.

“Eu era um menino melancólico, que só ouvia as baladas românticas que tocavam nas trilhas das novelas e no meio do baile. A música mela cueca, essa música romântica da década de 1970, tocava no meio do baile – as luzes estroboscópicas cessavam, entrava um fumacê, ficava uma luz lusco-fusco e o pessoal ia lá fazer o corpo a corpo na pista”, lembra, acrescentando que anotava as canções tocadas.

“As pessoas que gostam de meu trabalho não sabiam disso, achavam que eu era um cara fadado à piada, mas dentro de minha casa, embaixo da cama, eu sou uma pessoa romântica, melancólica.”

Zé Pedro recorda que alguns artistas brasileiros naquela época cantavam em inglês para figurar nas trilhas internacionais das novelas – inclusive, assinavam com nomes de sonoridade estrangeira.

Foi o caso de Ivanilton de Souza Lima, mais conhecido como Michael Sullivan. Fábio Jr. tinha o nome Mark Davis. Jessé era Christie Burgh e José Pereira da Silva Neto tornou-se Chrystian (depois, fez dupla com Ralph). O mais conhecido deles, no entanto, foi Maurício Alberto, ou Morris Albert, que fez estrondoso sucesso mundo fora com a melosa Feelings.

Em 2011, Zé Pedro abriu a gravadora Joia Moderna, cujo catálogo hoje tem mais de 60 discos. O DJ é um profundo conhecedor da música brasileira.

Já registraram álbuns na sua gravadora Zezé Motta, Alice Caymmi, Fafá de Belém, Zé Manoel, entre muitos outros. “Não tenho lucro. Gasto o que posso gastar, tem orçamento limitado, mas dá para fazer uma coisa de qualidade”, afirma.

Sobre a música brasileira, ele diz que está “fundada em singles porque as gravadoras e as distribuidoras não estimulam mais fazer álbum inteiro, com começo, meio e fim”.

Para ele, o mercado “não quer mais que o artista tenha 20, 30, 40 anos de carreira. Então, ele está usando todo o potencial do artista naqueles 15 minutos – e aí ‘o próximo, por favor’”.

“O que está acontecendo também é que todo mundo vai por um lado só. Então, tem muitas Vanessas da Mata, muitos Joãos Gomes, muitos Gilsons. Todos dessa nova geração que dão certo geram mais 20 cópias. Há uma repetição constante e um excesso de canções autorais, na minha opinião, desnecessárias”, ressalta.

Assista à entrevista de DJ Zé Pedro a CartaCapital:

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