![](https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2019/06/rondo-e1569356348396.jpg)
![](https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2019/06/rondo-e1569356348396.jpg)
Opinião
Brasil deveria desestimular a visita de chefes de Estado que apoiem golpistas, como Milei
Somos, porém, um país bastante acovardado, ainda, devastado pelo neoliberalismo escravocrata
Por
Milton Rondó
02.07.2024 11h23
![](https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2023/10/Sem-Título-13-1.jpg)
“Houve um tempo em que tive um certo esnobismo com relação à música popular. Isso foi no tempo em que eu achava que era o poeta, aquelas besteiras que você pensa quando é menino” – Vinicius de Moraes
O Brasil, aos trancos e barrancos, cresce: já somos a oitava economia do mundo; o desemprego caiu ao menor índice dos últimos 10 anos e a pobreza absoluta também se reduziu, atingindo a menor marca da série histórica (desde 2012), graças aos exitosos programas sociais promovidos pelo governo Lula.
Em breve, será possível que o Brasil volte a ocupar o espaço internacional que conquistara antes do golpe de Estado de 2016.
Nessa perspectiva, seria importante que o País se preparasse para se defender externamente e levar à Justiça aqueles que violarem a legislação brasileira, ainda que no exterior.
Vale recordar que na Lava Jato foi notória a manipulação dos órgãos de governo dos Estados Unidos da América para sancionar desproporcionalmente a Petrobras e as construtoras brasileiras, sem que os governos golpistas de Michel Temer e Jair Bolsonaro esboçassem qualquer reação, no sentido de protegê-las e, dessa forma, reparar a patente injustiça cometida não apenas contra elas, mas toda a nação brasileira.
Convém notar que a Justiça estadunidense é altamente ideologizada: por exemplo, a Corte Suprema acaba de decidir que um presidente é inimputável no cargo.
Isso representa um contrassenso evidente, na medida em que todos os funcionários públicos o são, sem exceção.
Dessa forma, que exemplo e que métrica de ética e moralidade darão os presidentes daquele país aos seus subordinados e a toda a nação?
O fato de que a esdrúxula sentença irá beneficiar Donald Trump, isentando-o dos crimes cometidos na Presidência, não é, evidentemente, mero acaso.
Nesse sentido, caberá instruir e capacitar na matéria os agentes externos brasileiros, desde empresários públicos e privados até diplomatas.
Com efeito, o golpe de Estado que impediu a posse de Evo Morales na Presidência da Bolívia, em 2019, foi sabidamente articulado pelas embaixadas dos EUA, da União Europeia e do Brasil, em La Paz.
Entretanto, não há qualquer registro de investigação sobre as comunicações entre o Itamaraty e aquela embaixada à época, o que não pode ser saudável para a democracia boliviana e ainda menos para a brasileira. Ao contrário, a ausência de transparência sobre esse nefasto episódio da política externa irá, forçosamente, projetar sombras sobre o relacionamento bilateral, com um país irmão e fronteiriço, até que tudo seja devidamente esclarecido.
Pior, por representar uma evidente violação da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, a interferência indevida nos assuntos internos do país acreditante traz uma nódoa para a diplomacia brasileira que só poderá ser removida com a elucidação do episódio, por mais doloroso que seja.
Nesse diapasão, os deputados Ricardo Salles, Bia Kicis e Gustavo Geyer deveriam automaticamente perder seus mandatos, por terem publicamente apoiado a tentativa de atentado à democracia na Bolívia.
Igualmente, chefes de Estado que apoiem golpistas deveriam ser desestimulados a visitar o Brasil, como é o caso do vizinho Milei, que pretende vir ao País para se encontrar com o golpista Bolsonaro, cuja prisão, infelizmente, tarda.
Mas somos um país bastante acovardado, ainda, devastado pelo neoliberalismo escravocrata.
Nos âmbitos municipais isso fica muito evidente. Dois exemplos: nos terminais de ônibus municipais de Jundiaí, não há sequer um policial, deixando os passageiros à mercê de todo tipo de estafas e agressões, sem terem a quem recorrer. Em Sorocaba, por sua vez, o cemitério mais parece um filme de terror, com túmulos abertos, literalmente, pois a segurança, se houver, deve ser minúscula, claramente insuficiente. O neoliberalismo não acredita em lágrimas ou em nem sequer respeitar os mortos. A resposta ao descalabro é dada pelos próprios funcionários: deverá haver privatização da segurança. Ou seja, o mesmo roteiro de sempre: deixar degringolar para que a população apoie a privatização. A direita não falha…
Em âmbito internacional, pobres dos franceses, sendo que de cada três eleitores, um votou na extrema-direita, no primeiro turno das eleições legislativas, no último domingo.
Para o Sul Global, a notícia não poderia ser pior, mas a África, mais uma vez, indica-nos o caminho: a independência das velhas metrópoles e a busca de alternativas, sobretudo o aprofundamento da integração continental, pois, no concerto das nações, só se ouvem as vozes claras; só se acolhem as legítimas, ainda que no longo prazo.
Em Pai nosso que estais na terra (editora Paulinas), o cardeal português José Tolentino Mendonça ilustra: “Há um rabino, comentador da Cabala, Soloviel, que afirma: ‘As duas vozes, a de Deus, que não devemos nomear, e a voz do Mal, do Mal inominável, são terrivelmente semelhantes. A diferença entre uma e outra é apenas o som de uma gota de chuva a cair no mar'”.
Fazer o discernimento, conjuntamente, é, de fato, divino, libertador, emancipador.
Naquela mesma obra, o prelado português rememora: “Michelangelo dizia que as suas esculturas não nasciam de um processo de invenção, mas de libertação”. Estavam lá, dentro da pedra, ele apenas as libertava.
Que a humildade do gênio que nos legou o Davi, o Moisés, Deus e Adão – no teto da Capela Sistina – nos permita refletir sobre nossas escolhas, inclusive para as eleições municipais, que não tardam.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.
Leia também
![](https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2024/06/000_34WN9NY-300x200.jpg)
Opinião
Deus nos livre da hipocrisia dos falsos cristãos e dos falsos democratas
Por Milton Rondó![](https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2024/06/000_34X22KF-300x166.jpg)
Opinião
Pela 1ª vez, povo na rua delimita os poderes de Lira e reage a legislação teocrática
Por Milton Rondó![](https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2024/06/AfD-300x200.jpg)
Opinião
Como não recordar que há um século os fascistas ascenderam ao poder na Itália e os nazistas na Alemanha?
Por Milton Rondó![](https://www.cartacapital.com.br/wp-content/uploads/2024/06/Claudia-1-300x200.jpg)
Mundo