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Quem é Jean-Luc Melenchón, o líder socialista que pode ser primeiro-ministro na França

A Nova Frente Popular, que une várias correntes progressistas, fez mais cadeiras que o centro e da extrema-direita

Mélenchon. O radical de esquerda deu rosto aos "indignados". Philippe Huguen/AFP
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O arriscado ‘xadrez’ de Emmanuel Macron, que dissolveu o congresso francês e antecipou as eleições após a vitória da extrema-direita no Parlamento Europeu, teve um xeque-mate inesperado. A Nova Frente Popular, que une várias correntes progressistas, fez mais cadeiras que o centro e da extrema-direita.

Apesar do alívio imediato e das perspectivas, a França enfrenta um impasse. O motivo? A NFP é um mosaico de partidos que nem sempre se entendem e, além disso, não conquistou a maioria absoluta. Ao longo da apuração, por exemplo, cada partido da aliança celebrou os resultados separadamente. 

Outra dúvida é sobre quem será o primeiro-ministro, já que a coalizão preferiu fazer campanha sem um cabeça de chapa. Um dos mais cotados é Jean-Luc Mélenchon, o líder da França Insubmissa, o mais à esquerda entre os partidos da NFP, e que deve amealhar o maior número de cadeiras.

Descrito como uma figura ‘controversa’ e ‘radical’, Mélenchon é um político veterano que abandonou o Partido Socialista em 2008, após 30 anos de militância, para liderar seu próprio movimento e concorrer às eleições presidenciais.

A cada disputa, o apelo do França Insubmissa foi crescendo: teve 11% dos votos em 2012, 19% em 2017 e 21% em 2022 – nesta última, aliás, quase tirou Marine Le Pen do segundo turno.

Nas eleições que disputou, Melenchón propunha, entre outras coisas, reduções da jornada semanal de trabalho, das atuais 35 para 32 horas, e da idade de aposentadoria, para 60 anos, um aumento do salário mínimo e o reforço da seguridade social, em parte através de impostos progressivos, taxando em 100% todo rendimento acima de 33 mil euros mensais. Prometia, ainda, abandonar a energia nuclear, responsável por cerca de 75% da eletricidade nacional, assim como re-estatizar o grupo nacional de energia EDF, parcialmente privatizado.

O programa da Nova Frente Popular, por sua vez, é mais modesto. A coalização quer reconhecer o Estado Palestino e propor um cessar-fogo entre Israel e Hamas. Na economia, promete aumentar o salário mínimo e controlar preços de alimentos e serviços essenciais. Também propõe revogar a reforma da previdência de Macron, que aumentou a idade de aposentadoria para 64 anos.

Formalmente, a escolha do futuro primeiro-ministro cabe a Emmanuel Macron. E a coalizão de Macron, o Juntos, torce o nariz para a França Insubmissa, parecendo apostar na desorganização dos adversários para retomar o controle.

Apesar dos bons ventos e das promessas, contudo, a percepção é de que a França, assim como outros países europeus, está caminhando para um período de mais austeridade. Atualmente, a França tem um dos déficits fiscais mais altos da zona do euro e corre o risco de infringir as novas regras fiscais da Comissão Europeia, suspensas para ajudar os países a se recuperarem da pandemia de Covid-19 e da crise energética.

O fato é que, para governar, as coalizões de centro e de esquerda precisarão se entender. A história recente mostra que, quando presidente e primeiro-ministro não se alinharam, o governo paralisa.

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