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Jornal venezuelano independente para de circular por pressão estatal

Último diário crítico ao governo de circulação nacional do país, “El Nacional” encerra edição impressa depois de 75 anos

Jornalistas de El Nacional (Federico Parra/AFP)
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O último grande jornal oposicionista na VenezuelaEl Nacional, encerrou sua edição impressa depois de 75 anos, em meio à pressão do regime de Nicolás Maduro. O Estado venezuelano controla as importações do papel de impressão usado pelo diário.

O popular El Nacional  interrompeu por completo sua edição impressa, mas seguirá com publicações na internet. Seus editores culpam a pressão exercida pelo governo. Assim, a Venezuela fica sem nenhum jornal impresso independente de circulação nacional.

“Nós suportamos mais do que os outros. Conseguiram silenciar o rádio e a televisão, éramos o último jornal nacional que mantinha edição impressa”, salientou o presidente-executivo do El Nacional, Miguel Otero, em entrevista ao diário espanhol ABC. “Mas no fim não conseguimos persistir.”

Segundo os editores, a razão imediata para o encerramento da edição impressa é a falta de papel, pois na Venezuela a importação de papel requer permissão especial do governo.

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Vários outros jornais menores também se viram forçados a suspender suas versões impressas.

El Nacional conseguiu continuar seu trabalho graças a doações de papel da mídia local e de países estrangeiros. O jornal já precisara cortar sua circulação e o número de páginas. Otero relata que o diário também foi atingido por ações judiciais apoiadas pelo governo, revisões de impostos e restrições de anúncios publicitários. Anos atrás, o presidente do jornal foi forçado a deixar a Venezuela para fugir da repressão.

Apesar de admitir que a interrupção da edição impressa ser uma “medida drástica”, ele frisou que o jornal não estava fechando e descreveu a suspensão como “temporária”.

Leia também: ONU: Quase 2 milhões de venezuelanos deixaram o país desde 2015

O gerente geral do diário, Jorge Makriniotis, prometeu, em carta enviada aos funcionários e publicada no site do El Nacional, que os trabalhos continuarão. “El Nacional  não morreu, mas se reinventa para apostar no futuro. Porque ninguém vai nos calar.”

A Venezuela tem o maior número de jornalistas presos pelo exercício da profissão na América, com três detenções em 2018. O Brasil registrou uma detenção. No mundo todo houve um aumento pelo terceiro ano consecutivo: 251 jornalistas foram presos, a maioria deles na Turquia (68), seguida pela China (47), de acordo com relatório publicado nesta quinta-feira pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas.

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