Economia

Após reclamação de ruralistas, Bolsonaro faz aceno à China

O presidente, antes crítico, disse que o país asiático é o maior parceiro do Brasil. Estados Unidos viria em segundo lugar

Bolsonaro e Araújo (Foto: ABr)
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Não foi à toa a mudança de tom de Jair Bolsonaro em relação à China. Na noite da quinta-feira 14, às vésperas de sua viagem aos Estados Unidos, por quem nutre um fetiche, o presidente mudou o tom em relação ao país asiático, até há pouco demonizado por ele e por integrantes de seu governo.

Bolsonaro anunciou a intenção de visitar a China e elogiou a nação “comunista”. “Como sempre disse na pré-campanha e na campanha, queremos nos aproximar do mundo todo. Os Estados Unidos podem ser com toda certeza um grande parceiro. O nosso grande parceiro econômico é China, em segundo lugar os Estados Unidos”.

A mudança de percepção tem a ver com as reclamações dos ruralistas, grandes apoiadores de Bolsonaro. Representantes de diversos setores do agronegócio estão alarmados com a beligerância contra os chineses, que compram todo ano 35 bilhões de dólares em produtos agrícolas do Brasil. Esta montanha de dinheiro é uma das principais responsáveis pelo lucro do setor, pelo superávit na balança comercial brasileira e pela entrada de divisas no País.

“Estamos comprando briga com nosso maior parceiro comercial e nem sabemos porque, só para imitar o Trump”, afirmou Pedro de Camargo Neto, vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira e ex-secretário de comercialização e produção do Ministério da agricultura.
Os ataques à China vieram em péssima hora. Para resolver a guerra comercial com Washington, Pequim cogita fechar um acordo no qual se comprometeria a comprar anualmente 30 bilhões de dólares de produtos agropecuários dos Estados Unidos.

Leia também: Bloqueio ideológico é uma das causas da desinformação sobre a China

Sem o dinheiro chinês, a soja brasileira afunda (Foto: Marcelo Camargo/ABr)

Especialistas têm a certeza de que os chineses deixariam em grande medida de adquirir commodities brasileiras para cumprir o acerto com os norte-americanos, o que comprometeria de vez qualquer possibilidade de recuperação no curto e médio prazo da economia do País. De chofre, levaria à bancarrota uma porção relevante de grandes produtores rurais.

As críticas do bolsonarismo à China “comunista” se avolumam desde a campanha eleitoral. Em outubro, ainda como candidato, Bolsonaro queixou-se de que o país “não está comprando no Brasil, ela está comprando o Brasil”.

Leia também: Será que Bolsonaro vai prestar continência a Trump?

No início do ano, o escritor Olavo de Carvalho, chamado de ‘guru do Bolsonarismo’, criticou a ida de uma comitiva de parlamentares do PSL à China para conhecer o sistema de reconhecimento facial do país e disse que, se fosse de fato guru do governo, isso não aconteceria. “Instalar esse sistema nos aeroportos brasileiros é entregar ao governo chinês as informações sobre todo o mundo que mora no Brasil”.

O chanceler Ernesto Araújo, discípulo de Olavo, chegou a propor um eixo “cristão” contra a China, que seria formado pelo Brasil, EUA e Rússia. Recentemente, o ministro das Relações Exteriores chegou a afirmar que não iríamos vender a alma para exportar minério de ferro e soja. “Nós queremos vender soja e minério de ferro, mas não vamos vender nossa alma. Querem reduzir nossa política externa simplesmente a uma questão comercial, isso não vai acontecer.”, declarou.

Os ruralistas, fiadores do governo Bolsonaro, discordam.

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