Política

Brasil, democracia de luto, nossa América na luta

O golpe brando contra Dilma mostra que nem mesmo a democracia representativa está garantida na América do Sul

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Problemas da educação não são resolvidos com menos educação, problemas de transparência não são resolvidos com menos transparência, os da igualdade não resolvidos com menos igualdade, nem os problemas da democracia se resolvem com menos democracia.

Um punhado de parlamentares acusados de corrupção pré-condenou discursiva e midiaticamente uma presidenta – eleita pelo voto majoritário de seu povo – por atos de corrupção que não foram comprovados. Como não podiam removê-la do cargo por esta razão, criminalizaram atos de governo públicos e publicados, que já foram usados por governos anteriores e de outros países, estabelecendo um grave precedente jurídico para os atos de governo de administrações atuais e futuras da região.

Então, por que a presidente Dilma Rousseff não é mais presidente do Brasil? Sim, porque houve um golpe parlamentar

Falei na reunião de 28 de abril no Senado do Brasil, disse aos senadores que o País estava caminhando para um “golpe de Estado”. A verdade envergonha alguns e fortalece outros. Não é por acaso que, depois de minhas palavras, senadores da oposição exigiram censurar minha frase no registro taquigráfico.

Se já era questionada a democracia representativa por deixar as pessoas em um quase-estado de desamparo, no qual os governantes podem fazer o que querem e não o que devem. Com este golpe no maior país da América do Sul, nem mesmo a democracia representativa está garantida. Ou seja, no momento em que 51 senadores podem votar contra 54 milhões, a democracia entra em luto.

Alguns governos latino-americanos retiraram seus embaixadores como um sinal de compromisso com o futuro das nossas democracias. E os órgãos regionais deveriam exigir que o governo usurpador convoque novas eleições. 

Enquanto isso, o povo brasileiro tem o nosso apoio nesta fase de resistência para a defesa das nossas democracias. Não é o primeiro golpe brando neste século e não será o último, pois há muitos muitos embaixadores do golpismo.

Esta é uma operação regional que não para no gigante do sul, e logo vai para a Venezuela, Equador, Bolívia… para o futuro de todas as alternativas políticas que não querem abaixar a cabeça. A esperança é sempre nos povos, que são os fiadores para democratizar as democracias, para converter o luto em vida, o luto na luta.

*Adolfo Pérez Esquivel, ativista de direitos humanos argentino, foi prêmio Nobel da Paz em 1980

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