Economia

No campo e no retrocesso, tudo como o previsto

O Brasil é uma tragédia pronta para acontecer

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Pior do que ser o país da piada pronta, criação do jornalista José Simão na Folha de S.Paulo, é ser o país da tragédia pronta. Com pessoas e materiais, as folhas e telas cotidianas se esbaldam em nos mostrar. Repetitivas, verão e inverno, a população as toma como desígnios de Sua própria semelhança.

Um dia depois do último Natal, escrevi nesta CartaCapital:

O Brasil colherá mais uma safra recorde de grãos. Plantou-se maior área, alto uso de tecnologias convencionais, caras e menos efetivas se não completadas com tratamentos orgânicos. O clima está ajudando.

A comercialização será feita a preços menores do que os da safra anterior, não ao ponto ainda de quebrar alguém, mas já no bojo do início de uma etapa altamente protecionista.

No Brasil, as legislações favorecerão a compra de terras por estrangeiros e a liberação de agrotóxicos fabricados pelas multinacionais. Assentamentos agrícolas serão sacrificados e mais se politizarão. Poucas exigências do código de preservação ambiental serão cumpridas. Direitos constitucionais do trabalhador rural serão retirados. As nações indígenas e quilombolas nem apitos terão. A agricultura familiar continuará a se preservar em luta própria, se enforcando ao dar aos bancos garantias reais, nas formas de seus meios de produção, terras e máquinas”.

Dois meses depois, pergunto: não está sendo assim?

Produção agrícola

Segundo a última estimativa da Conab, o Brasil colherá 251,3 milhões de toneladas de grãos. Novo recorde, 15% acima da safra anterior. Nos EUA, o plantio de primavera da soja deverá crescer 8,5%. A situação da economia mundial não faz esperar crescimentos proporcional na demanda. Resultado: estoques finais maiores, cotações mais baixas, dólar em queda no Brasil, e os efeitos do protecionismo, prenunciados nas unhadas do presidente pele-laranja dos EUA no comércio internacional.

Governo para o acordo de elites

Desconsidero a ganância patronal e patrimonialista de patos amarelos. É secular e nunca entenderam o ciclo capitalista investimento, emprego, renda, consumo, produção. Também, nunca o permitiram.

Enfim, tudo que se previa tornar terra arrasada no Brasil em relação aos direitos sociais, meio ambiente e soberania, caminha célere. O despreparo do grupo instalado no poder faz-nos contar com todas elas. Não haverá contraposição. Executivo, Legislativo e Judiciário, apoiados nas poucas famílias donas das empresas de mídia, mandam, desmandam e depois voltam a mandar. Confusos, pois, pouco entendem do que fizeram ao País. Certos estão de como encher seus pandulhos e fugir de corrupções comprovadas.

Vendas de terras para estrangeiros

A BrasilAgro, empresa com foco comercial em terras rurais, acaba de comprar área de 17,6 mil hectares no sul do Maranhão, por 100 milhões de reais. Além da alardeada crise econômica, a região do “Matopiba” (Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia) tem sido castigada por pesadas secas nas últimas safras.

Apesar de expansão recente, pouco mais de uma década, a Conab indica que, em 2017, 24% das exportações de soja e milho serão realizadas pelos portos do Arco Norte (Itaqui/MA, Barcarena/PA, Itacoatiara/AM).

Liberadas as vendas de terras a estrangeiros a BrasilAgro terá feito um ótimo negócio. O AgroBrasil também?

Voz dissonante no tema tem sido a do ministro da Agricultura, Blairo Maggi. Pero no mucho. Defende “alguma restrição à participação de fundos de investimentos em áreas de culturas anuais, como grãos”. Não à toa. Seu grupo, Amaggi, ainda é uma das maiores empresas sojicultoras do Brasil.

A mesma dissonância vem de parte dos militares, contra a abertura feita apenas em base a decreto presidencial. Mostram noção de soberania muito maior do que a camarilha, e provam que tudo sempre pode piorar.

A flexibilização da venda de terras a estrangeiros não servirá à agropecuária, mas sim à especulação imobiliária.

Política indigenista

O dentista e pastor evangélico, mineiro de 66 anos, Antônio Fernandes da Costa, é o novo presidente da Funai, Fundação Nacional do Índio, um órgão do governo destroçado pela falta de recursos. Entre 2013 e o previsto para 2017, suportará uma queda de 45% nos recursos para projetos e demarcações.

Em entrevista ao Valor (11/02/2017), declarou: “O momento da Funai assistencialista não cabe mais, temos que produzir sustentabilidade, ensinar a pescar”. Mais um que vem com essa história do ensinar a pescar. Justo para os índios, que já o nascem sabendo.

Agrotóxicos

Mais um aviso dado pela coluna no final do ano passado. Usurpação de poder já consumada, viria o afrouxamento na legislação de aprovação para agrotóxicos. Nunca o muito que se tem impede o querer mais.

Depois de as vendas caírem de 12,2 bilhões de dólares, recorde mundial em 2014, para 9,6 bilhões de dólares, em 2015, a recuperação será promissora em 2016/17, prometendo voltar aos níveis anteriores. Mesmo assim uma ajudazinha do Congresso será bem-vinda.       

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