Espera por construção de UBS na Zona Norte de SP dura dois anos

A entrega de posto de saúde na Jova Rural estava prevista para agosto de 2016. Moradores reclamam do atraso nas obras

O terreno era usado pelos moradores como um campo de futebol improvisado

Apoie Siga-nos no

Em agosto de 2015, foram iniciadas as obras de construção da UBS Jova Rural, na região do Jaçanã, Zona Norte de São Paulo. O terreno era usado pelos moradores como um campo de futebol improvisado e atualmente abriga a obra inacabada pela Prefeitura.

Na placa é possível ler a data prevista de término da construção: 17 de agosto de 2016, exatamente dois anos atrás.

“A obra está bem devagar, vejo poucas pessoas trabalhando. Completar dois anos de atraso é um absurdo, um descaso total com a população e com o dinheiro público”, explica a contadora Rosângela Reis, 37 anos, moradora da região há 30.

A gente consegue perceber que tem coisas estragando. Vi uma parede verde de lodo de uma goteira na parte interna, além do estrago das pichações no muro”, completa.

Leia mais: 
Moradoras da Jova Rural reclamam de esgoto a céu aberto

O 32xSP acompanha a história desde 2016. A primeira reportagem, publicada em agosto daquele ano, mostrou que a obra fazia parte do Programa de Metas 2013-2016 e ainda não tinha sequer paredes na estrutura quando completou um dia de atraso na entrega.


Na época, a entrega da UBS foi prorrogada por mais 256 dias, a partir do dia 18 de agosto de 2016, quando a nova data passou a ser 1º de maio de 2017.

segunda reportagem saiu em maio de 2017, quando este prazo encerrou e a obra recebeu uma segunda prorrogação de mais 120 dias, terminando em 29 de agosto de 2017.

Atualmente a obra está mais evoluída – com 77, 5% de progressode acordo com a Prefeitura de São Paulo –, mas ainda parece muito distante de um acabamento e uma futura entrega.

De olho na obra

Os moradores observam a movimentação no local. Uma delas é a auxiliar de enfermagem Ednalva de Jesus, 55 anos, moradora da região há 28.

“A obra está devagar, mas está indo, pelo menos começou de novo. Quando passo por lá vejo chegando caminhão com material. Acho um absurdo ter ficado parada todo esse tempo, enquanto as pessoas precisam de médico e não tem. Mas vamos fazer o quê? Quem está com o dinheiro são eles [governantes]”, desabafa.

O orientador socioeducativo Alexandre Roberto dos Santos, 42 anos, conta que quem sofre com tudo isso, como sempre, é o povo.

“Eu acho um grande desrespeito com a nossa comunidade que tanto precisa dessa UBS, pois a unidade da Vila Nova Galvão sofre com o contingente de usuários e não consegue atender todas as demandas”, afirma.

“O atraso é igual a qualquer outra obra onde se superfatura e quem paga a conta sempre somos nós. Não importa o governo, são tudo da mesma ladainha, direita, esquerda e o povo ao centro dos partidos”, acrescenta José Roberto de Souza, 35 anos, chefe de produção. “Avistei movimentações de trabalho na construção e pensei: será que agora vai?”

Segundo dados de 2017 do Mapa da Desigualdade, o distrito do Jaçanã possui 0,41 unidade básica de saúde por 10 mil habitantes e está dentro da média da cidade de São Paulo, também de 0,41.

De acordo com o Programa Cidades Sustentáveis, é necessário oferecer, no mínimo, uma unidade básica de saúde com Programa Saúde da Família para cada 10 mil habitantes.

Veja também: Psiquiatra de UBS se aposenta e pacientes ficam sem atendimento


Em 29 de março, a assessoria de comunicação da Prefeitura de São Paulo respondeu que as obras da UBS Jova Rural seguiam em andamento com previsão de término para agosto deste ano. A reportagem entrou em contato para novas informações, mas até o momento não obteve resposta.

Também foram solicitadas à ouvidoria do SUS. A resposta enviada pela ouvidoria do distrito de saúde Santana-Jaçanã diz que, segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), está prevista a conclusão da obra para dezembro de 2018.

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

 

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.