Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Fausto Fawcett volta a lançar um disco com olhar aguçado sobre a perturbadora vida urbana

Multiartista apresenta o álbum Favelost, fazendo uma conexão com o seu livro sobre uma sociedade caótica

Foto: Divulgação
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Fausto Fawcett, multiartista e ícone da crônica urbana, adapta-se aos novos tempos da indústria fonográfica. Seu último disco solo saiu há cerca de 30 anos, Básico Instinto, o terceiro da carreira. Nesse hiato, dedicou-se à escrita.

“Tem que lidar de outra forma com a atenção, que foi picotada, fragmentada, colocada neurologicamente de forma nervosa e ansiosa”, diz ele a CartaCapital sobre o projeto de lançamento de seu novo álbum, Favelost.

Além de trazer o canto falado, característico de seu processo musical, Fawcett apresenta singles antecipando a chegada completa do disco, em maio, além de agregar vinhetas ao trabalho e uma produção audiovisual refletindo os novos tempos do mercado fonográfico.

“Eu me encaixo nas narrativas épicas, que são ao mesmo tempo radiofônicas e cinematográficas, com essas crônicas poetizadas exageradas sobre o cotidiano. Kátia Flávia é esse exemplo.”

O multiartista começou na música nos anos 1980 com a banda Fausto Fawcett e os Robôs Efêmeros. É autor do hit Kátia Flávia, a Godiva de Irajá, e também de Rio 40 Graus, sucesso na voz de Fernanda Abreu, que gravou ainda Garota Sangue Bom e Brasil é o País do Swing. Outro sucesso é a canção Balada do Amor Inabalável, que fez com Samuel Rosa.

No novo disco, “a referência é o Favelost (2012, um de seus livros), que traz uma mancha urbana do Rio a São Paulo, com uma espécie de Serra Pelada, de gente rica e também ferrada, aonde as pessoas iam trabalhar e se transformavam em cobaias”.

As nove faixas do trabalho são assinadas por Fausto Fawcett, com melodia de Jarbas Agnelli. “Queria que tivesse uma sonoridade tecnotrônica para falar de certos sentimentos que estão em ebulição”, avalia, sobre a concepção sonora de Favelost, que tem distribuição da Nikita Music.

As faixas do álbum são intercaladas por vinhetas narrativas, recitadas por Fawcett e Carolina Meinerz, atriz e diretora de teatro.

Com esse recurso, o multiartista faz uma imersão ainda mais profunda no projeto. A produção audiovisual do disco, assinada por Jodele Larcher, realiza a conexão das músicas com as imagens.

O disco conta ainda com as participações de André Abujamra, Irmãs Paixão, Marcos Suzano e Rodrigo Sha, e a banda formada por Bianca Jhordão, Rodrigo Brandão (guitarras e programações) e Paulo Beto (parafernália tecnotrônica e programações).

“Faço parte da música brasileira de experimentações e de certa tradição que une literatura, rádio e música”, afirma. Ele diz insistir no rádio porque esse meio de comunicação esteve muito presente e influenciou a forma discursiva de toda a sua geração.

A poesia do submundo de Fausto Fawcett é arrebatadora e original. Nas suas canções, ela começa de maneira simples e direta, mas ganha complexidade, remetendo a lugares e imagens comuns e incomuns, dignas de um poeta fértil.

“O mundo inteiro está submundanizado, ainda mais no Brasil. As promiscuidades são flagrantes. Você não sabe o que é a superfície e a profunda bandidagem. Ao mesmo tempo, nós temos todas as decências e esperanças”, discorre. “Em cinco minutos você tem civilização, normalidade e amor; em outros cinco minutos, incertezas, barbárie, ódio. A gente tem essa equação.”

Ele ressalta que oferece um enfoque sensacionalista da vida cotidiana em seus textos, com “aspectos perversamente interessantes porque tocam muito em imagens do absurdo”.

“Esse assunto, que a gente está chamando de submundo, é uma grande convulsão e a aceleração de vários aspectos de nossa vida, gerando muita ansiedade, depressão, violência”, prossegue. “Isso é desde o livro Santa Clara Poltergeist (1990, seu primeiro) e o primeiro disco de Fausto Fawcett e os Robôs Efêmeros (1987), quando pegava Copacabana e transformava em um pedaço de terceiro mundo.”

Fausto Fawcett participa do C6 Fest 2024 em maio.

Assista à entrevista de Fausto Fawcett a CartaCapital:

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