Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Filme sobre as trilhas do Grupo Corpo expõe a força da música brasileira

Arnaldo Antunes, Caetano Veloso, João Bosco e Lenine falam em documentário do processo de construção musical para a companhia de dança

Foto: Divulgação
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O Grupo Corpo estreou em 1976 com Maria Maria, com trilha de Milton Nascimento e textos de Fernando Brant – a música homônima de ambos fez parte do roteiro e se tornou obra-prima do cancioneiro nacional. Foi um enorme sucesso também o espetáculo, inclusive internacional.

Outros projetos vieram e grandes músicos passaram a ser convidados para a produção de trilhas exclusivamente para os espetáculos da companhia de dança contemporânea. 

O documentário Grupo Corpo pela Música, dirigido por Armando Mendz e Janaina Patrocinio, lançado recentemente pelo canal Curta!, conversa com autores das várias trilhas sonoras dos projetos do corpo de balé. 

São relatos profundos do processo de criação musical de cada espetáculo, mostrando não somente o papel do som na dança, mas o peso da música brasileira na companhia, que acabou transformando o Grupo Corpo numa das principais vitrines no mundo da cultura brasileira.

José Miguel Wisnik, que chegou a participar de quatro projetos de trilhas para o corpo de balé, Caetano Veloso, João Bosco, Arnaldo Antunes e Lenine (participou de dois projetos) falam do processo de criação e a construção do diálogo musical com a dança.

O filme chama atenção na medida em que os artistas detalham como chegaram ao resultado final. O processo é, na verdade, a realização de um álbum – os espetáculos do Grupo Corpo têm em média 45 minutos. 

O conjunto de músicas e efeitos sonoros deve ser criado para ter o corpo como veículo, usando específica técnica composicional para dança – embora, no filme, os músicos citam muita liberdade para desenvolver o trabalho. O discorrimento sobre isso pelos artistas acaba sendo uma aula dos recursos do processo de criação, notadamente aos relacionados a timbres e ritmos adotados a partir do largo espectro musical brasileira. 

Pelo menos três projetos se tornaram grandes discos, tamanho o impacto: Parabelo (Tom Zé e Wisnik), Benguelê (João Bosco) e Breu (Lenine). 

Há ainda depoimentos no documentário de Moreno Veloso que, com Domenico Lancelotti e Kassin, fez uma trilha, assim como de Samuel Rosa (com o Skank) e o grupo Metá Metá (Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França).

Palmas também para o depoimento de Marco Antônio Guimarães, do extinto Uakti, e a sua enorme contribuição de tirar sonoridade de instrumentos convencionais e não convencionais, num rigoroso cuidado técnico para chegar ao resultado capaz de se transformar em algo enigmático no palco para representação do Grupo Corpo.

O filme também faz lembrar o papel de Paulo Pederneiras (diretor artístico) e Rodrigo Pederneiras (coreógrafo), irmãos à frente do Grupo Corpo desde sua criação, capazes de atrair e aliar com maestria a música brasileira com a dança. É um documentário valoroso sobre o processo musical brasileiro.

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