Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Odair José usa inteligência artificial em álbum para gerar voz feminina e instrumentos

Não há grande diferença para a indústria, que já usa amplamente a programação em estúdio; na temática do disco, ele reafirma ser um artista cult

Foto: Bernardo Guerreiro

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Odair José poderia ter virado um sertanejo pop, como fez parte de sua geração dos anos 1970, quando se viu sem mercado e escanteado pelo establishment por produzir um som “piegas demais”.

O cantor e compositor, porém, se manteve firme em seus princípios e, com o tempo, ganhou uma aura de artista cult. Os motivos são diversos e se apoiam principalmente no fato de que Odair teve uma postura diferente de seus pares quando focou na música sentimental.

Ele tratou de pautas de costume em suas músicas e foi perseguido pela ditadura. Em outra vertente, em vez de fazer um som com intromissões majoritariamente pop para se tornar mais palatável, optou por construir uma obra com alguma referência do rock.

Agrega-se a isso o fato de ser alinhado ao campo progressista (suas canções e entrevistas expressam isso).

O 39º álbum de Odair José, recém-lançado, é a representação da história desse artista, com inserções da realidade atual. As 13 músicas inéditas exprimem, em letra e melodia, o som da noite, do pecado, do desejo, da existência – e também de ser livre para pensar e amar.

Com o nome de Seres Humanos (e a Inteligência Artificial), o projeto reproduziu voz feminina a partir da inteligência artificial nas faixas de abertura e de encerramento (a única composição que não é só de Odair, mas em parceria com Bárbara Eugênia). O som das vozes de IA inseridas nas duas canções soam pragmáticas.


Também se recorreu à inteligência artificial para gerar alguns sons de instrumentos musicais, como piano acústico, baixo acústico, bateria, fender rhodes e percussão. Não se vê diferença, porque há muito a indústria usa dispositivos eletrônicos para reproduzir um som – a prática tem o nome genérico de programação ao aparecer na ficha técnica de discos.

Somam-se ainda à parafernália de equipamentos de produção os sintetizadores (ou synths) e os samplers, citando os mais conhecidos.

Apesar da introdução da moderníssima IA, o novo disco de Odair José deve ser ouvido como um objeto cult, de um artista que não precisa ressignificar nada, pois se converteu na própria redefinição estética da música quando, há muito tempo, passou a nadar de forma audaciosa e inteligente contra a maré.

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