Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Projetos lançados em São Luiz do Paraitinga reiteram musicalidade local

Quatro iniciativas de músicos da região reafirmam que a produção cultural continua viva na cidade histórica do Vale do Paraíba

Despirocadas. Foto: Divulgação

Apoie Siga-nos no

Artistas formados em São Luiz do Paraitinga, a cidade histórica do Vale Paraíba e enclave cultural do interior, lançam novos projetos e reafirmam a vocação musical do lugarejo: o grupo Paranga apresenta nova música, Camilo Frade e Los Cunhados se reúnem em ótimo disco, jovens artistas do Despirocadas lançam primeiro álbum e a banda Estrambelhados faz em EP homenagem ao multi-instrumentista Nhô Frade, vítima da Covid-19.

O Paranga foi um dos nomes surgidos no movimento Vanguarda Paulista, que contava ainda com artistas como Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, Premeditando o Breque, entre outros. O grupo sintetiza a formação musical luizense, com elementos das fanfarras e dos ritmos dos folguedos locais com influências musicais urbanas.

Negão dos Santos, do Paranga, lançou uma música com duas versões. Cada versão tem um nome diferente. Dia Bão tem o ritmo das marchinhas de carnaval luizenses. Já Dia Binho tem arranjo latino.

A letra da música trata de dias diferentes, um do outro. Os dois estilos impregnados nas duas versões, a marchinha e a latinidade, são justamente as influências urbanas inseridas na musicalidade luizense, citadas anteriormente. 

Os singles, disponíveis no canal do YouTube do Paranga, trazem além de Negão dos Santos no violão (aliás, Negão é um dos grandes violistas do Vale do Paraíba), Renata Marques e Lia Marques (vozes), João Gaspar (guitarra), Mau (contrabaixo) e Archanjo dos Santos (bateria e percussão).

Nova geração

Los Cunhados é uma banda da nova geração musical de São Luiz do Paraitinga. Alguns dos integrantes são filhos de músicos que foram membros do Paranga no seu início, na virada do ano 1980.


No primeiro álbum dos Los Cunhados, intitulado Na Farra É que a Vida Tem Graça, foi chamado para gravar o também luizense Camilo Frade. Cantor e compositor, Camilo canta de forma pessoal e expressiva, tem musicalidade e compõe com forte acento tropicalista. Esse disco mostra com facilidade essa característica.

Camilo Frade, que lançou alguns trabalhos solos no passado, já havia se apresentado com Los Cunhados. É possível que a banda, que já mostrava vitalidade musical, ganhe projeção com a inserção de Camilo no projeto. E o próprio Camilo poderá fazer finalmente seu potente trabalho chegar ao eixo Rio-São Paulo. 

O disco, disponível nas plataformas digitais, conta com músicas dos próceres compositores locais Marco Rio Branco e Thar. 

As minas

Despirocadas já se apresentavam no famoso carnaval de São Luiz do Paraitinga. Agora, lançam o seu primeiro trabalho chamado DespirOquê?, com participações de Ceumar, a sanfoneira Lívia Mattos, as Divas do Paraitinga e Maracatu Baque do Vale.

Formada só por mulheres, destaque para a voz imersa na canção de Patrícia Guimarães e a alma percussiva de Mara Rúbia – integram ainda o grupo Esther Fietz (baixo e voz), Rafaela Maia (teclados e voz), Jéssica Donegá (violão), Bianca Santos (trompete), Joana Coelho (flauta), Amanda Cursino (sax alto) e Mayara Ferreira (sax tenor). 

As jovens revelam no disco talento e o que representa a musicalidade que corre nas veias dos luzenses, tendo as marchinhas de carnaval como ponto de partida. 

A produção musical do disco é do baixista, compositor e pesquisador da cultural popular Betão Aguiar, que vive lá por São Luiz do Paraitinga. O álbum das minas, disponível nas plataformas digitais, também tem os prestigiosos compositores já citados assinando faixas, além de Galvão Frade, principal compositor e lenda do carnaval luizense.

Homenagem

A banda Estrambelhados, famosa em São Luiz do Paraitinga pelo enorme público que atrai quando se apresenta na praça da cidade, lançou EP com três faixas representativas do trabalho musical que realiza, misturando marchinhas locais com pop-rock.

O EP, disponível nas plataformas digitais de música, foi gravado ao vivo em um estúdio em Taubaté. Integra o grupo Estrambelhados o saxofonista, arranjador e compositor Léo Couto, Netto Campos e Leandro Barbosa – os dois últimos, conhecidos promotores da cultura local. O trabalho é uma homenagem ao multi-instrumentista Nhô Frade, que participava da banda e morreu em 2020, vítima da Covid-19. 

Nhô Frade é pai de Camilo Frade e Caio Frade, tio de Tomás Frade, que é filho de Galvão Frade e irmão de Nhô. Nhô Frade já integrou o Paranga, assim como seu irmão, e também Marco Rio Branco e Thar. 

João Gaspar é musicista de ponta e grava com artistas fora de São Luiz do Paraitinga. Negão dos Santos é filho de Elpídio dos Santos, cidadão ilustre da cidade e compositor de valsas, marchas, dobradas, cateretês, sambas, maxixes e choros.

Há mais um punhado de outros artistas não citados aqui que integram as bandas Los Cunhados, Despirocadas e Estrambelhados. E também outros projetos musicais e artísticos na região. 


E tem ainda nomes como do artista plástico Benito Campos, pai de Netto Campos e fundador do melhor bloco de carnaval local, o Juca Teles. E ainda o violeiro Moreno Overá, o músico Paulo Baroni, o contador de histórias Ditão Virgilio. 

São Luiz do Paraitinga é esse microcosmo cultural brasileiro, para ser preservado e guardado no coração.

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

 

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.

CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.

Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.