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Passado o carnaval, gritos por democracia, igualdade e direitos devem seguir

Ouçamos Chico: se aliste meu camarada, a gente vai salvar o nosso carnaval

Foliões aproveitam carnaval para pautar temas políticos. Foto: Elineudo Meira/Fotos Públicas
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Por José Ricardo Vargas de Faria*


Urbi et Orbi, à cidade e ao mundo, é a expressão que precede a mensagem de Páscoa que o papa anuncia da sacada do Vaticano. Na tradição judaico cristã, a Páscoa representa a liberdade e a ressurreição e marca o fim da Quaresma, período de purificação e privação que começa na quarta-feira de cinzas, fim do carnaval. Carnaval, festa profana, da carne, dos corpos e dos prazeres, do pode tudo antes que comece a penitência.

Os significados, contudo, se transformam. O carnaval de 2020 teve o de sempre, e um pouco mais. Festa e luta, prazer e crítica, amor e violência. Estética e Política, afinal de contas. Não é ao acaso que esse carnaval tenha sido assim. A intensificação da violência de gênero, da homofobia, do racismo estrutural e permanente; a destruição de direitos, a intensificação da exploração do trabalho e o aumento da pobreza seguem lado a lado com os recordes de lucro dos bancos, com um governo que pretende colocar as empregadas domésticas e os pobres “em seus devidos lugares”, com a adoção do milicianismo como forma de governo.

O carnaval trouxe uma mensagem à cidade e ao mundo, que passa pela sacada do Vaticano, mas é das ruas e das praças. Uma mensagem que antes de ser do papa é do povo. Da Civitas para Urbi et Orbi. Uma mensagem de democracia, de igualdade, de liberdade outra que não a do mercado, de outra economia possível, de solidariedade contra o obscurantismo e a opressão. Uma mensagem que conquistou os espaços e invadiu os corações.

Findo o carnaval, manda a tradição que comece a penitência. Há quem tenha começado a fazer a sua parte invocando dois soldados e um cabo, o AI-5, o fechamento do Congresso, a ditadura sem meias palavras. Aqueles ambientados com os grotões, os porões e os bastidores estão começando a se acostumar com as ruas. Não é exatamente uma novidade, lembrem da Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que negava as famílias realmente existentes, crucificava Deus e defendia o fim da liberdade. Na versão de 2020, invocam o poder do povo contra o povo. A guerra foi declarada e a terra está ameaçada de se acabar em uma explosão de sal.

Dom Helder Câmara um dia abençoou e tenho a certeza de que o papa Francisco concordará: este ano o carnaval não pode acabar porque a Quaresma tem durado tempo demais. A mensagem da democracia, da igualdade e dos direitos tem que continuar nas ruas.

Ouçamos Chico: se aliste meu camarada, a gente vai salvar o nosso carnaval.


*É professor da Universidade Federal do Paraná e membro do BrCidades.

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