Diálogos da Fé

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A religião e o massacre de Las Vegas

A ideia de que o Islã prega o terrorismo se consolidou na sociedade, mas é equivocada

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Nós ficaríamos irritados caso alguém nos perguntasse se existe uma religião que autorize matar pessoas. Aliás, responderíamos da seguinte forma: “O que você quer dizer? Que tipo de pergunta é essa?” Afinal, todas as religiões pregam o bem e proíbem o mal. Aliás, as religiões proíbem matar uma cobra ou um escorpião, caso não sejam uma ameaça à vida humana.

Embora isso seja sabido, infelizmente, o Islã e o terrorismo são sempre citados juntos. A religião é um instrumento muito eficiente para orientar e usar as pessoas, e as organizações terroristas não hesitam em utilizá-la para realizar seus atentados. Como vários ataques motivados por meio do uso equivocado da religião aconteceram, a ideia de que o Islã prega o terrorismo se consolidou nas mentes dos indivíduos.

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O massacre de Las Vegas é um exemplo que provavelmente pode contradizer essa ideia. Uma pessoa idosa pegou suas armas e entrou no meio de um festival de música. Matou 59 pessoas e feriu outras centenas. Por quê?

Nós não sabemos o motivo de tal ato porque o autor se suicidou. Porém, sua história mostra que ele nunca cometeu crime algum. Viveu como um bom cidadão e não prejudicou ninguém. A mulher com quem conviveu não sabia de nada diferente a seu respeito, até que um dia, aos 60 anos, ele fez uma coisa inesperada: matou dezenas de pessoas.

E o que a religião diz a respeito disso? Analisemos especificamente o que está no Islã. O profeta Muhammad diz: “Quem crê em Deus não pode matar uma pessoa. Quando ele matar uma pessoa, se afasta da sua fé, como se tirasse a sua roupa”.

Inclusive, o Alcorão diz o seguinte sobre matar uma pessoa: “Matar uma pessoa (a não ser em defesa) é o mesmo que matar toda a humanidade”. (Alcorão, 5;32)

O assunto é abordado assim claramente. No mesmo versículo afirma: “Salvar uma pessoa é igual a salvar toda a humanidade”. Ou seja, além de proibir de matar, o que é um pecado grave, o Alcorão ordena providenciar as condições de dar continuidade à vida, protegê-la e combater as ameaças à vida.

Ao observarmos o caso do assassino de Las Vegas, o Islã ressalta como segue: caso esta pessoa possuísse uma crença ou religião, não mataria uma alma sequer, pois a religião se baseia na vida. Os animais e as plantas, assim como o ser humano, são seres vivos. Uma pessoa que tenha uma fé forte não arrancaria nem uma flor, caso não seja necessário; pelo contrário, tal pessoa é obrigada a plantar flores, criá-las e promover um mundo em que há flores e suas fragrâncias para torná-lo um lugar habitável.

Por que? Porque conforme abordado na segunda parte do versículo citado acima, aquele que salva uma vida, será com se tivesse salvo toda a humanidade.

Então, perguntemos ao Islã: O que você diz a respeito do assassino de Las Vegas? O Islã diz: “Se ele me der importância, não pensará numa coisa dessas. No momento em que ele pensou num assassinato assim, ele não terá mais nada a ver comigo”.

O Cristianismo, o Judaísmo e as demais religiões também dizem o mesmo. Então, não podemos falar da “religião do terrorismo”. Porém, infelizmente, tal atribuição ainda está sendo feita em relação ao Islã, dificultando a vida dos muçulmanos em todas as partes do mundo.

Tradução: Atilla Kus. Revisão: Mustafa Goktepe

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