Diálogos da Fé
Blog dedicado à discussão de assuntos do momento sob a ótica de diferentes crenças e religiões
Diálogos da Fé
O islã contra o machismo e o racismo
Uma perspectiva social do surgimento da religião baseada em valores divinos
Islã é o nome da religião que se traduz como salam ou paz.
Muçulmano é aquele que se submete à divindade criadora do universo, cuja o nome é Alá, que significa “O Adorado” (além de atribuir-se a Ele 99 outros nomes divinos, que trataremos em uma próxima oportunidade).
No Alcorão, há um versículo em que Alá diz sobre Ele mesmo: “Eu era um tesouro escondido e quis ser revelado”
Não o chamamos Deus, pois Deus é o nome que vem da palavra grega Zeus, que significa ¨pai de todos os deuses” ou múltiplos deuses. Para nós, a unicidade da divindade é um princípio fundamental e foi esta unidade que criou tudo.
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A unicidade, monoteísmo ou Tauhid em árabe é um dos principais conceitos, ou o principal, de um conjunto de crença e pilares da fé e um corpo de doutrina de adoração a um criador único, que criou os anjos, os gênios, os humanos e todas as criaturas existentes.
O islã acredita na mensagem divina, revelada anteriormente nos livros sagrados Torá, Bíblia, aos profetas que antecederam ao profeta Mohammad e a revelação do sagrado Alcorão por meio do anjo Gabriel.
Reivindicamos a todos os profetas como mensageiros, cada qual a seu tempo, destacando entre tantos Noé, Abraão, Moisés, Jesus e Mohammad (que a paz esteja com todos eles)
O profeta Mohammad foi o último dos mensageiros de Alá e foi profetizado por Jesus como o que viria depois dele, para selar a religião e as mensagens dadas aos homens antes do fim dos tempos.
Não vieram profetas depois dele, mas imãs ou guias de sua linhagem, para ajudar a conduzir a causa do islã.
Acreditamos no dia do juízo final, onde as almas dos vivos e dos mortos deveram acertar contas com o criador.
O islã é também uma maneira de vida, que rege o cotidiano do crente e estabelece regras comportamentais, sociais e políticas de princípios considerados sagrados ou de origem divina que regulamentam a vida dos muçulmanos entre questões licitas e ilícitas, aconselháveis e não aconselháveis. Vão desde a proibição de roubar ou matar até a proibição da ingestão do álcool, da carne de porco e das carnes não abatidas pelo sistema de abate halal ou o permitido.
A percepção ética e social foi criada pelo islã surgido 600 anos depois de Cristo, em um tempo onde se combateu o politeísmo, a principal fonte de exploração da fé humana, por meio da adoração de ídolos na Caaba, que atraía milhares de indivíduos a uma vida de barbárie e ignorância, chamada pelos árabes de djahilia .
O islã também combateu o machismo e a opressão contra as mulheres, que eram enterradas vivas (antes da ascensão do islã), pois os Coraixitas, que eram o governo na Meca, diziam que ter filhas era vergonha e as mulheres não tinham direitos nem à herança nem ao divórcio, nem a estudar ou ter opinião (direitos conquistados no islã), sendo que antes eram consideradas serventes dos homens.
O islã aconselhou as mulheres a não mostrarem seus atributos aos homens, cobrindo-se com o véu, hijab, para proteger as mulheres dos olhares machistas e da utilização da mulher por meio da exposição do corpo feminino.
O profeta Mohammad teve cinco filhas. Quando foi governo em Medina, proibiu esta prática criminosa contra a vida das mulheres, que era o destino de serem sepultadas vivas em uma sociedade machista e caótica, e incentivou a educação das mulheres, tirando-as do trágico destino da ignorância e dos riscos de feminicídio.
O Alcorão sagrado em suas narrativas sobre a criação de Adão e Eva não atribui à mulher a culpa pelo pecado original, mas a ambos, ao contrário da Bíblia, que atribui a Eva a responsabilidade.
É dele a frase direcionada a incentivar a busca do conhecimento tanto por homens quanto por mulheres:
“Buscai o conhecimento, mesmo que seja na China ”
Infeliz e desgraçadamente, alguns maus governos e monarquias árabes que usurpam o nome do islã deformaram seus verdadeiros ensinamentos, origens e princípios em nome de interesses econômicos, mas o islã das origens sagradas revelado enquanto o profeta Mohammad meditava e recebia a visita do anjo Gabriel tinha uma revelação para um mundo que vivia um contexto histórico e social muito concreto.
Surgiu contra a exploração religiosa que o povo era submetido, adorando ídolos. Surgiu abolicionista, contra a escravidão dos irmãos negros, e surgiu feminista, não oprimindo nem negando às mulheres seus direitos e dizendo que elas são iguais aos homens perante Alá na busca pelo conhecimento e que devem mostrá-lo à sociedade.
Ele também foi um grande abolicionista, pois o islã sempre proibiu a escravidão do homem ou a discriminação por sua raça ou classe social.
Lutou contra a escravidão e alforriou escravos com o dinheiro do islã. Proibiu a usura na economia ou os chamados “juros” e estabeleceu um sistema econômico baseado na distribuição dos recursos adquiridos na sociedade com o zakat ou parte de toda a riqueza acumulada no ano que deve ser destinada aos necessitados.
Estabeleceu o jejum como outra forma de purificar o ser humano e fazer o rico lembrar da fome do pobre e dividir sua riqueza com os necessitados.
As obrigações que tem um muçulmano de rezar cinco vezes por dia, fazer o jejum no ramadã, pagar o zakat e, caso tenha condições, realizar a peregrinação a Meca estão ligadas a sua crença de que há um criador
O islã inspira a construir bases espirituais e materiais concretas para um mundo possível, mais justo e livre do racismo, machismo, usura e opressão.
* Patrícia Soares é historiadora, professora da rede pública de ensino e militante de movimentos sociais
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