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A realidade das categorias de base e a importância da discussão

O mais triste é que as tragédias caem no esquecimento. Elas continuam pulsando apenas para quem perdeu alguém

Foto: Ricardo Stuckert / CBF
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Com pouco mais de um mês da tragédia no Ninho do Urubu, do Flamengo, o clube tenta regularizar o Centro de Treinamento. Foi entregue, agora em março, uma documentação na tentativa de reabrir o local. O desastre provocado por negligência matou dez jovens atletas e deixou 3 feridos.

Seguir carreira no futebol é o sonho de muitos adolescentes. Mas é preciso muito treino, esforço e paciência. Para aqueles que vão iniciar esse percurso fora de casa, a Lei Pelé já estabelece que os clubes que desejam manter alojamentos devem garantir segurança. A lei afirma que é preciso ter fiscalização e regras de funcionamento.

Na Câmara dos Deputados, a tragédia repercutiu e algumas ações estão em caminho. O Luiz Antonio Teixeira Júnior (PP/RJ) pede maior rigor na fiscalização dos alojamentos e apresentou projeto para alterar o texto da Lei Pelé. A proposta quer incluir a necessidade de inspeção e autorização dos alojamentos pelas prefeituras e Corpo de Bombeiros. Quando os atletas forem menores de idade, é exigida autorização dos pais e do Juizado da Infância e Juventude.

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O projeto não prevê penas financeiras aos clubes que desobedecerem às novas regras, mas caso reincidam nas infrações, estarão impedidos de participar de qualquer competição que envolva categorias de base por um prazo de dois anos. A intenção é deixar o texto mais claro com o objetivo de que tragédias não se repitam.

A proposta está em análise conclusiva em uma comissão especial, mas a questão é que a discussão sobre a realidade dos clubes de futebol e das categorias de base no Brasil não é uma prioridade legislativa. Talvez nunca tenha sido. E, com as eleições de 2018, a bancada da bola precisa se reinventar. De 17 políticos, apenas 4 foram reeleitos.

Leia também: Meninos do Flamengo foram mais uma vítima do racismo estrutural

Somente após a morte de jovens atletas e o choro de mães que abriram mão da convivência diária com seus filhos em nome de um sonho o Parlamento voltou a falar sobre a realidade do esporte brasileiro. O mais triste é que as tragédias caem no esquecimento. Elas continuam pulsando apenas para quem perdeu alguém ou sobreviveu.

Existem reformas políticas importantes e prioritárias para o Brasil, logicamente. Mas há também o esporte, as condições de desporto e a realidade cruel dos atletas que se destacam em Olimpíadas e nos gramados. Questões nunca tidas como prioridade, mas que merecem uma discussão aprofundada.

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