Colunas e blogs
House of Mãe Joana: prepare a pipoca e curta a demência bolsonarista
A Banana Republic Original Series (ou o resumo semanal do hospício, porque este Brasil deixou de ser sério faz tempo
No mais novo episódio da série, o cabaré segue a arder em chamas. Não, não se trata do amazônico incêndio que queima o filme do Brasil, essa mistura do mal com o atraso e pitadas de psicopatia. O maçarico descontrolado emerge das entranhas do golpismo/bolsonarismo/lavajatismo. Agora, seus principais atores chamuscam uns aos outros em cizânias de proporções variadas, dos barracos de madeirite aos que, rachada a alvenaria, podem fazer a casa cair. Prepare a pipoca: eis uma rinha que a gente gosta de ver.
No domingo 26, o humorista Marcelo Madureira discursou no Rio de Janeiro durante a manifestação a favor de Sérgio Moro e do direito de abusar da autoridade. Ao acusar Bolsonaro de conspirar contra a Lava Jato, acabou expulso do ato. Não fosse a escolta da PM, o ex-Casseta poderia ter sido submetido ao cacete.
“Enfrentei a ditadura militar, não vou ter medo de meia dúzia de ignorantes”
Disse o eleitor do entusiasta da ditadura militar, cujo livro de cabeceira são as memórias do torturador Brilhante Ustra.
A deputada federal Carla Zambelli trava uma guerra particular contra Joice Hasselmann, ambas do Partido Só de Laranjas (PSL).
Fato: Joice foi CONTRA a manifestação de 26/05. Não a vi 30/06 e hoje, novamente, não esteve presente em apoio à Bolsonaro, Moro, Lava Jato e veto do Abuso de Autoridade.
Ela está no ES desde ontem, onde @jdoriajr estava em reuniões.
Afinal, o que está havendo?
— Carla Zambelli (@CarlaZambelli17) August 26, 2019
A que respondeu a muy amiga:
Como a inteligência não é o forte dessa senhora, vou explicar: EU ESTAVA FALANDO DO QUE NOSSO GOVERNO (BOL-SO-NA-RO) está fazendo e ainda fará pelo país com minha ajuda e de outros que TRABALHAM. Os encostados que queriam uma mamata pública e não um mandato não entram nessa lista
— Joice Hasselmann (@joicehasselmann) August 26, 2019
Zambelli, como se viu, esteve na manifestação na Avenida Paulista. No entanto, também foi expulsa, assim como o ex-Casseta.
Em vídeo publicado pela própria deputada, um manifestante aproxima-se e explica a razão do fogo amigo.
“Você é comunista, você não pede intervenção militar, você é comunista!”
De fato Zambelli tem o cabelo vermelho.
A fritura de Moro segue a todo vapor.
“Com todo respeito a ele, mas o mesmo não esteve comigo durante a campanha”
Foi a resposta de Bolsonaro ao singelo comentário de um internauta, que apenas pedia ao presidente que “cuide bem do ministro Moro”. Do que se depreende que o mesmo será maltratado. Com todo respeito, no entanto.
Além de Moro, Bolsonaro já alvejou também a PF, o Coaf, a Receita e o Ministério Público Federal. O mundo gira e a Lusitana roda.
Enquanto Bolsonaro frita Moro, o bolsonarismo cozinha Deltan Dallagnol e a própria Lava Jato.
Aqui, uma declaração de Leandro Ruschel, segundo o próprio um “especialista em investimentos. Apaixonado por filosofia e ciência política. Empreendedor. Pai. Admirador da excelência. Conservador” (a expelir também seu fogo amigo, a colunista de O Estado de S. Paulo e Rádio Jovem Pan, Vera Magalhães, prefere “o churrasqueiro do bolsonarismo”.)
Por que eu falo com total convicção sobre o esquerdismo de Dallagnol? Porque eu tenho dois amigos da maior confiança que ouviram da boca dele pesadas críticas a Bolsonaro, além da defesa de pautas esquerdistas. Fora outras dezenas de sinalizações dadas por ele.
— Leandro Ruschel 🗣🇺🇲🇧🇷 (@leandroruschel) August 23, 2019
Ruschel tem 300 mil seguidores no Twitter, entre eles o presidente, os três Zeros à esquerda e diversos ministros.
No sábado 24, o editor Jair Bolsonaro ordenou que repórteres à frente do Palácio do Planalto fizessem uma reportagem para denunciar o “jornalista” Merval Pereira, outra das tantas chocadeiras do ovo da serpente.
“Acabei de postar uma matéria sobre o Merval Pereira. Palestra de 375 mil reais. Tá legal? Tá ok? 375 pau uma palestra no Senac. Tá ok? Faça a matéria. Se vocês não fizerem nenhuma matéria sobre isso nos jornais eu não dou mais entrevista para vocês. Tá legal?”
Merval de fato recebera os 375 “pau”, mas para 15 palestras, a 25 mil a unidade. Ninguém publicou a “denúncia”. Bolsonaro não deu entrevista.
Na primeira temporada de House of Mãe Joana, pai Jucá, hoje suprimido do elenco a exemplo de Queiroz, previu o golpe como ele foi: “Com o Supremo, com tudo”. Deu no que deu. Em Belo Horizonte, também na manifestação de domingo, o coro dos descontentes conferiu ao hit YMCA, do grupo Village People, a seguinte letra:
“Melos, cês são fofos demais / Alexandre, cê não fica atrás / Lewandowski, não esqueço jamais / É tanta be-ne-vo-lên-cia…”
E por aí foi.
Durante pronunciamento do presidente em rede nacional na sexta-feira 23, deu-se também o divórcio entre os golpistas/bolsominions/lavajatistas e as panelas, traídas pelo rolo de macarrão com o qual se bate a trinca do poliamor. Salve-se quem puder!
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.