As expectativas de Sâmia Bomfim a respeito do julgamento do aborto no STF

A deputada federal do PSOL defende uma mobilização social mais ampla, que pressione os ministros a levarem a discussão ao plenário físico

A deputada Sâmia Bomfim em sessão da CPI do MST. Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

Apoie Siga-nos no

Está marcado para a próxima semana o julgamento da ADPF 442, que pode tornar inconstitucional a criminalização do aborto até o terceiro mês de gestação. Ela deve ser apreciada em prazo máximo de sexta-feira, 29. Isto porque a presidente da Corte e relatora do caso, Rosa Weber, se aposenta e passa o bastão para o ministro Luís Roberto Barroso até o dia 02 de outubro.

O julgamento acontecerá em plenário virtual – um formato que, infelizmente, impossibilita que o debate na Corte envolva organizações da sociedade civil, que participam de julgamentos como amicus curiae, fornecendo análises para auxiliar a tomada de decisão dos ministros.

Segundo a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL), há uma expectativa palpável entre os membros do Congresso de que a sociedade civil pressione os magistrados a transferirem o caso para um plenário físico. Isso permitiria uma análise mais minuciosa e abrangente das complexas questões em jogo.

“Nós imaginamos que os ministros podem tanto pedir vistas, quanto pedir destaque, para que o debate saia um pouco da clandestinidade”, disse a deputada a CartaCapital, logo após uma visita a sede do Supremo Tribunal Federal, nesta quarta-feira 20, para acompanhar a pauta.

Embora Rosa Weber esteja empenhada em acelerar o julgamento, um processo que já se estende por seis anos, a decisão final pode ainda demorar bastante. Os ministros, como afirmou Sâmia, têm a prerrogativa de pedir mais tempo para análise, o que adiaria a decisão por até 90 dias, de acordo com o regimento interno da Corte.

Uma tática adicional para pressionar o debate sobre a questão seria a emissão de uma medida provisória ou um indulto presidencial para mulheres atualmente encarceradas ou em julgamento por aborto. No entanto, Sâmia Bomfim é cética quanto à probabilidade dessa ação por parte do Executivo, dada a histórica inércia do governo sobre a matéria.


“Claro que gostaríamos que houvesse alguma proatividade por parte do executivo”, diz Sâmia. “Mas isso nunca aconteceu ao longo da história, né? Tem a ver com a correlação de forças no Parlamento”.

Outro obstáculo mencionado pela parlamentar é a completa falta de estatísticas confiáveis sobre a mortalidade relacionada ao aborto, seja ele aborto legal, espontâneo ou deliberado. “O que temos é [informação do] o DataSus, ou seja: hemorragia e infecção uterina, internação”. A carência desses dados impede a formulação de políticas públicas eficazes.

Sob a legislação atual, o aborto só é permitido em três circunstâncias específicas: anencefalia, estupro e risco à vida da mulher. As mulheres que interrompem a gravidez fora desses cenários enfrentam penas de prisão de um a quatro anos, conforme estabelecido nos artigos 124 a 126 do Código Penal de 1940.

No âmbito parlamentar, esforços têm sido feitos para resistir a projetos de lei que visam endurecer ainda mais as penas para as mulheres, como o chamado ‘Estatuto do Nascituro’.”É essencialmente um estatuto em favor dos estupradores. Felizmente, após muita resistência, conseguimos barrá-lo”, completa a deputada.

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Relacionadas

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.