Cultura

A natureza das coisas

Tudo e nada acontece perante a câmera do diretor italiano Michelangelo Frammartino em seu segundo filme, “As Quatro Voltas”

Tudo e nada. Na imagem do velho pastor, a referência aos ciclos da vida
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As quatro voltas


Michelangelo Frammartino

Tudo e nada acontece perante a câmera do diretor italiano Michelangelo Frammartino em seu segundo longa- -metragem As Quatro Voltas, com estreia prevista para 21 de dezembro. Um olhar mais aflito tenderá a se precipitar na falta de uma narrativa tradicional, na qual algo se conta. Mas no tempo próprio do realizador, consoante àquele da pequena comunidade de ares medievais encravada nas montanhas da Calábria, esse algo surgirá vagaroso, extemporâneo e grandioso. Porque é dos ciclos da vida, da natureza, com suas exigências e caprichos, que trata Frammartino numa composição nem sempre clara entre ficção e documentário.

Por isso talvez a cena de abertura seja dedicada a um velho que sofre de insistente tosse. Entre uma saída e outra para pastorear suas cabras, ordenhá-las, ele recolhe o pó dos resíduos da igreja para tomá-lo como remédio ao mal que o atormenta. O universo ainda que restrito do vilarejo começa então a se ampliar, dando conta de um local de nenhuma vibração juvenil. Há uma celebração em torno de uma árvore, que se acompanhará até seu destino na serraria. Também a encenação do calvário para a qual se reúnem os moradores, momento quase prejudicado pelo incidente causado por um cão que destrava as rodas de um caminhão. Mas o cotidano segue, como aponta um enterro, enquanto se dá o nascimento de um cabrito. Parece pouco, mas o que Frammartino conquista aqui com uma sensibilidade incomum é a constatação da finitude.

As quatro voltas


Michelangelo Frammartino

Tudo e nada acontece perante a câmera do diretor italiano Michelangelo Frammartino em seu segundo longa- -metragem As Quatro Voltas, com estreia prevista para 21 de dezembro. Um olhar mais aflito tenderá a se precipitar na falta de uma narrativa tradicional, na qual algo se conta. Mas no tempo próprio do realizador, consoante àquele da pequena comunidade de ares medievais encravada nas montanhas da Calábria, esse algo surgirá vagaroso, extemporâneo e grandioso. Porque é dos ciclos da vida, da natureza, com suas exigências e caprichos, que trata Frammartino numa composição nem sempre clara entre ficção e documentário.

Por isso talvez a cena de abertura seja dedicada a um velho que sofre de insistente tosse. Entre uma saída e outra para pastorear suas cabras, ordenhá-las, ele recolhe o pó dos resíduos da igreja para tomá-lo como remédio ao mal que o atormenta. O universo ainda que restrito do vilarejo começa então a se ampliar, dando conta de um local de nenhuma vibração juvenil. Há uma celebração em torno de uma árvore, que se acompanhará até seu destino na serraria. Também a encenação do calvário para a qual se reúnem os moradores, momento quase prejudicado pelo incidente causado por um cão que destrava as rodas de um caminhão. Mas o cotidano segue, como aponta um enterro, enquanto se dá o nascimento de um cabrito. Parece pouco, mas o que Frammartino conquista aqui com uma sensibilidade incomum é a constatação da finitude.

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