No álbum O Real Resiste, lançado um pouco antes da pandemia em 2020, Arnaldo Antunes já se apresentava em tom reflexivo. Era o seu 18º álbum solo e destoava do anterior, o RSTUVXZ (2018), de som mais pesado circulando entre sambas e rocks.
Chega agora o Lágrimas no Mar, dando continuidade ao que havia feito há dois anos, com acentuação ainda mais intimista. O músico gravou o trabalho em voz e piano. O som do piano é do jovem pernambucano Vitor Araújo.
O pianista já estava programado para fazer os shows relativos ao disco O Real Resiste – na gravação do álbum, quem tocou piano foi Daniel Jobim, neto de Tom Jobim. Os shows no formato presencial não deslancharam por causa da pandemia, e Vitor Araújo se restringiu a fazer lives do trabalho.
Mas ele e Arnaldo Antunes desenvolveram tanta sintonia que no fim realizaram um álbum de nove faixas, sendo quatro inéditas. O pianista elaborou os seus próprios arranjos.
O trabalho Lágrimas no Mar tem um clima nebuloso em tempos incertos. Como o último disco solo de Arnaldo, foi gravado em seu estúdio em meio à natureza em uma casa de campo no interior de São Paulo. É a primeira vez que o artista grava um trabalho de voz e piano.
Arnaldo segue com voz enfática e visceral. Vitor explora bem as possibilidades do piano, saindo do recital. Ambos dialogam confortavelmente no álbum.
O disco tem quatro inéditas: a faixa-título Lágrimas no Mar (Pedro Baby – que participa da faixa com violão de nylon e guitarra -, João Moreira, Arnaldo Antunes e Marcia Xavier), Enquanto Passa Outro Verão (César Mendes e Arnaldo), Umbigo (Cézar Mendes e Arnaldo) e A Não Ser (Arnaldo, Alice Ruiz e João Bandeira).
Nos primeiros versos da canção Lágrimas no Mar, a dúvida: “Pode ser pra toda vida / Mas também pode acabar / Numa triste despedida / Ou talvez deva durar”.
Arnaldo Antunes gravou uma canção com Erasmo Carlos, Manhãs de Love – Erasmo já havia registrado, mas Arnaldo não. Regravou Longe (Arnaldo, Betão Aguiar e Marcelo Jeneci) e Fora de Si (só do Arnaldo) – esta última, com os versos: “Eu fico louco / Eu fico fora de si / Eu fica assim / Eu fica fora de mim”.
Registrou ainda uma música de Itamar Assumpção, Fim de Festa, e uma de Caetano Veloso, Como 2 e 2 – nessa canção do baiano interpretada por Arnaldo Antunes, uma síntese do disco: “Meu amor, tudo em volta está deserto, tudo certo / Tudo certo como dois e dois são cinco…” Arnaldo Antunes se inseriu numa fase de imprecisões como o tempo em que vivemos.
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