Os blocos afros do Carnaval da Bahia costumam seduzir os foliões-turistas interessados em ir além dos trios elétricos badalados. Há neles fortes traços da cultura baiana na sua origem. Mas é difícil encontrar aprofundamento para entender essa relação.
O longa metragem Samba de Santo – Resistência Afro-Baiana (2020, 81min), com direção do músico Betão Aguiar, é um bom momento para compreender essa história. O filme se centra em três blocos afros – Ilê Aiyê, Cortejo Afro e Bankoma -, todos originários de terreiros de candomblé. A manifestação religiosa contribuiu para a conformação musical brasileira, notadamente na capital baiana.
O filme mostra a força da religiosidade e a ancestralidade na sua intersecção com a dança e a estética. Os blocos abrem aos seus participantes a possibilidade de afirmação da negritude durante o Carnaval.
Filmado há um ano, dias antes e durante a festa em Salvador, o filme se contrapõe a exaustiva exibição das personalidades do axé music, preocupadas em promover seus camarotes e vender abadás.
Bankoma, Cortejo Afro e Ilê Aiyê surgiram nos terreiros de Salvador. Com depoimentos de líderes desses blocos, o filme mostra os preparativos até os desfiles, em que beleza e fé se misturam entre seus envolvidos, em meio à dificuldade de colocar o Carnaval na rua. O respeito às tradições está lá expressado a todo tempo.
Para as comunidades onde esses blocos habitam, a sua força ocupa papel social, de assistência, com aulas de percussão, dança, costura e tecelagem aos seus frequentadores durante todo o ano.
A força da música, do canto e da indumentária produzida pelos blocos, influenciada pela religião, com o desfile realizado junto à comunidade, é o ponto alto do longa-metragem. O Ilê Aiyê é a grande referência nesse ato.
A fotografia do filme é de Bruno Graziano e a montagem de Cauê Bravim, que divide também o roteiro com Betão Aguiar. Os artistas Junix11 + MayHD compuseram a trilha sonora.
O longa-metragem tem patrocínio do Natura Musical e do Governo do Estado da Bahia, por meio do Fazcultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. O filme percorre festivais desde outubro e sua exibição ainda não entrou no circuito aberto.
Samba de Santo – Resistência Afro-Baiana faz parte do acervo Mestres Navegantes, projeto que Betão Aguiar desenvolve há mais de dez anos de pesquisa e registro da cultura popular brasileira ligada à música. É o primeiro longa-metragem do músico.
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