Homens de ética

"César Deve Morrer", dos irmãos Taviani, tem várias representações além da peça Shakespeariana a que alude seu título

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César Deve Morrer


Paolo e Vittorio Taviani

São várias as representações em jogo no novo filme dos irmãos Taviani, César Deve Morrer, estreia de sexta 1º, além da peça de Shakespeare a que alude o título. A mais evidente, indicada logo no início, compreende um grupo de teatro não profissional atuante numa prisão de segurança máxima em Roma. Na sequência, a proposta se torna mais complexa quando esses amadores são testados em audição para a realização do filme. Parecem testes reais, mas são forjados, segundo os próprios Paolo e Vittorio em entrevista durante o Festival de Berlim do ano passado, quando saíram vencedores com o Urso de Ouro. É o primeiro indício de um trabalho na fronteira entre o documental e a ficção, formato que contribui para a força da narrativa. Mas a riqueza surge maior quando percebemos que a diversidade de origem desses condenados e sua ética particular caem como uma luva ao Júlio Cesar shakespeariano.

É a razão dos Taviani terem escolhido o texto. Para eles, os homens da Máfia e da Camorra ali detidos seguem o mesmo princípio de noção do bem que não descarta a execução. Quando Brutus apunhala César não se destitui da moral, do caráter. Segue, ainda assim, um homem de bem, como repete Marco Antonio. Mas essa verdade não é incontestável nem para os detentos.  Saem transformados e críticos da experiência, como atesta o intérprete de Cássio, quando diz que ao conhecer a arte sua cela passou a ser verdadeiramente uma prisão.

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