Lançado no ano passado na Europa com grande repercussão e elogios de diversas publicações, como Le Monde, Télérama, Livres Hebdo e Europe 1, Luzes de Niterói (Editora Veneta), o novo romance gráfico do autor fluminense Marcello Quintanilha, dá um passo adiante no sentido de consolidar as histórias em quadrinhos como um dos mais impactantes gêneros artísticos da atualidade – como já havia sido nos anos 1950 e 1970.
Antigamente se dizia: esse gibi parece cinema. Depois disso, é adequado dizer: bem que o cinema atual podia parecer isso. Porque se trata de uma técnica narrativa de grandes vazios de ação, com fulcro na cartografia emocional de uma nação: o Brasil. A diferença entre outros autores que buscam esse desvelamento é que Quintanilha parece conhecer como poucos o mundo de certo deserdado brasileiro, o lúmpen capaz de, após o descarrilamento de um trem ou uma explosão de dinamite num rio, mergulhar no garimpo das coisas que sobraram desses eventos para buscar algum tipo de prêmio alimentar.
A história do livro se passa em torno da amizade entre Hélcio, um quase jogador de futebol, e Noel, um catador de garrafas da praia. Quintanilha vive há muito tempo em Barcelona, na Espanha, mas é impressionante o trabalho em torno de sua memória afetiva na infância em Niterói: tem como substrato histórias vividas pelo seu pai como jogador do time de futebol Manufatora Atlético Clube, do bairro Barreto, naquela cidade do Rio.
O cinema já descobriu a qualidade da obra de Quintanilha: seu álbum mais premiado, Tungstênio (2014), vencedor dos prêmios Angoulême (o maior da França) e Rudolph Dirks, virou filme pelas mãos do cineasta Heitor Dhalia. A literatura também: outro álbum seu, Hinário Nacional (2015), ganhou um Prêmio Jabuti. Ele segue fazendo um trabalho que tem tudo a ver com cinema e literatura, mas que se afirma numa zona que ainda não foi nomeada.
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