Pandemia fará eventos culturais no espaço público serem repensados

Vitrine de prefeituras, grandes acontecimentos ligados à cultura serão um dos desafios das novas administrações públicas

Aglomeração no pré-carnaval de São Paulo. Foto: PMSP (Prefeitura Municipal de São Paulo)

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Em muitos municípios as grandes festas ligadas à cultura em espaços públicos costumam ser vitrine da administração pública, além de movimentar a economia, atrair turistas, divulgar a cidade e impulsionar as artes locais.

 

Mas pelo menos no primeiro ano de gestão dos novos governos municipais a serem eleitos em novembro, a situação, por conta da pandemia, seguirá como quase todo o ano de 2020 está sendo, com os grandes festejos cancelados.

“A tendência é que a gente fique assim até que saia a vacina”, diz Nabil Bonduki, arquiteto, urbanista e ex-secretário municipal de cultura de São Paulo. “Não é uma questão de política de cultura, mas de saúde pública”.

A opção para o gestor municipal com essa situação, segundo ele, é fazer o uso do espaço público com limitação de pessoas.

“É possível que se faça eventos ao ar livre sem aglomerações, num auditório com distanciamento das cadeiras, controle no número de presentes. Mas isso não vai se ver no Carnaval, na Virada Cultural (evento anual na capital paulista com programação diversa) sem que a população esteja vacinada”.


Nabil Bonduki, que é novamente candidato a vereador, dessa vez por meio de um coletivo, acredita que a possibilidade de se manter eventos culturais todos os finais de semana, não concentrados e incapazes de gerar aglomerações, seja uma solução para dinamizar o espaço público, movimentar a vida cultural da cidade e gerar renda para um setor muito atingido pela pandemia.

“Pode se ter eventos menores, em locais abertos com controle no número de pessoas, com as pessoas distantes uma das outras. A questão é como controlar o número de pessoas em uma área pública aberta. Uma opção é fazer com reserva prévia do público, estabelecendo um número máximo de pessoas. Isso, aliás, a prefeitura de São Paulo poderia ter feito nos parques”.

Mas Nabil Bonduki ressalta que cultura não é só fazer evento: “Tem o momento de criação, formulações, oficinas, fomentos, que poderiam também gerar renda aos artistas, respeitando o isolamento ou com a realização virtual”.

O conceito aplicado hoje de política pública cultural, quando o gestor público tem visão de fato em aplicá-la, centra-se basicamente na valorização das culturas locais e promoção do acesso da população à cultura.

Mas sabe-se que a política cultural em muitos municípios brasileiros se apoia em ocupações do espaço público em grandes acontecimentos festivos, como Carnaval, São João, rodeios, datas religiosas etc. Promove-se pouco a cultura fora desses eventos pontuais em várias localidades.

Mas o que farão os novos gestores públicos, sabendo que vão herdar grandes acontecimentos cancelados desde março de 2020 e, provavelmente, sem data de retorno em 2021? Serão eles capazes de estabelecer instrumentos de manutenção e incentivo à cultura e as artes, sem promover aglomerações? São questões que já podem ser feitas aos candidatos antes do voto.

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