Cultura

São Paulo no palco de Paulinho da Viola

O sambista faz show gratuito no Anhangabaú em comemoração ao aniversário da cidade

Paulinho da Viola (Wikimedia)
Apoie Siga-nos no

Os caminhos recentes percorridos por Paulinho da Viola em terras paulistanas confirmam um artista refinado na música e na alma.

Na sexta-feira 18, Paulinho levou seu bom show “Na madrugada” ao Tom Brasil. A novidade não era um disco recém-lançado de inéditas, mas uma homenagem ao seu pai, o violonista Cesar Faria, já falecido, em um bloco instrumental acompanhado de dois ícones do choro paulistano: Izaías do Bandolim e o irmão, o violonista Israel.

Na mesma apresentação não deixou de reverenciar outro grande paulistano, este sentado na plateia. Tratava-se de Eduardo Gudin. Com o roteiro deixado de lado, tocou de surpresa a ótima “Ainda mais”, de autoria de ambos, para o público que quase lotava a casa.

Nesta sexta 25, Paulinho da Viola e sua banda se apresentam no aniversário de São Paulo, às quatro da tarde, em show aberto no Vale do Anhangabaú, convidando dois dignos representantes da geração atual do samba paulista: Fabiana Cozza e Rodrigo Campos. Participa ainda da apresentação a filha do sambista carioca, Beatriz Rabello, companheira do pai em alguns projetos.

Paulinho conhece Fabiana desde os tempos em que ela participava do grupo “Notícias dum Brasil”, de Eduardo Gudin, por volta dos anos 2000. Já Rodrigo tem o primeiro contato com o sambista. Paulinho fez questão de subir ao palco na festa oficial da cidade com esses expoentes do samba paulista.

“Considero Paulinho uma figura notável e de uma sensibilidade sem igual”, conta o paulistano Izaías, que tocou quatro choros, ao lado do irmão, com Paulinho, no Tom Brasil, em meio a um repertório de clássicos sambas. O músico é história viva do gênero em São Paulo e houve demonstrações explícitas no palco de profundo respeito do sambista do Rio ao bandolinista.

O paulistano Eduardo Gudin conta que a música deles cantada no show em São Paulo foi a primeira feita por ambos – eles caminham hoje para a quarta composição juntos, diz Gudin. “Paulinho é uma síntese do samba. Completo. Moderno sem quebrar a tradição”, resume, ressaltando o privilégio da amizade e da parceria musical.

Leia também: Do samba ao funk: a voz dos excluídos

Fabiana Cozza, da época que teve com Paulinho pela primeira vez para cá, tornou-se diva. Uma cantora de expressão e irretocável canto. “Nunca estive com ele enquanto solista. Será emocionante especialmente no aniversário de São Paulo. É quase um presente pessoal”, ressalta.

Para a cantora, Paulinho tem contribuição imensa à música.

“Ele alçou o samba e muitos de seus compositores a um patamar de realeza, lugar legítimo ao gênero”, avalia Fabiana Cozza.

Rodrigo Campos não é paulistano da gema (nasceu em Conchal), mas cantou a capital, notadamente a Zona Leste, onde viveu, no seu primeiro disco intitulado “São Mateus não é um lugar assim tão longe” (2009). O trabalho dá uma boa diretriz do samba paulista atual.

Paulinho da Viola para ele é referência tanto estética quanto de letra, que subverte linguagens de forma natural. Aliás, se tem um músico que também faz isso nos dias de hoje é o próprio Rodrigo – o CD “Sambas do absurdo” (2017), dele com Juçara Marçal e Gui Amabis, é um exemplo disso.

Segundo o cantor e compositor, ele está realizando um sonho – e o coloca como um dos maiores artistas de todos os tempos. Rodrigo sobe ao palco com seu cavaquinho.

Leia também: O samba ainda sofre preconceito, diz pesquisador

O que ele pensa de tudo isso?

“Lembro-me de ter participado aqui em São Paulo, há muito tempo, de uma homenagem dos 30 anos de trabalho de Waldir Azevedo. O Izaías estava presente. Assim como também ele estava em um evento no Clube do Choro nos anos 1970 em São Paulo”, recorda Paulinho a longa relação com o chorão.

O sambista conta que em 2006, na inauguração do Teatro Fecap na capital paulista, tocou com Izaías e Israel. A apresentação foi gravada e pode virar até um CD, revela ele. “Foi uma felicidade enorme”, diz.

Cozza se apresenta ao lado do sambista (Foto: Wikimedia)

O cantor faz um paralelo dessa antiga apresentação com o show feito recentemente na casa de espetáculo paulistana com os dois chorões. “Isso que fizemos foi mais ou menos o realizado no Fecap. Claro, com o repertório diferente. Mas a intenção era essa, de ter convidado dois amigos, dois músicos que tenho um carinho especial. E foi um sucesso”, afirma.

Sobre o convite para participar do aniversário de São Paulo, Paulinho explica que houve uma sugestão da produção que tivessem convidados. Daí, chamou a filha Beatriz Rabello com quem tem feito várias apresentações: “Inclusive em um show no qual eu faço participação de um disco que ela lançou, o ‘Bloco do amor’ (2016)”.

Do convite a Fabiana Cozza, ele destaca que a conhecia cantando músicas suas. “É uma grande cantora e figura humana”, comenta.

Com relação a Rodrigo Campos, ele não o conhecia. Mas o trabalho do músico foi apresentado a Paulinho, que ouviu um CD e gostou. “Será uma participação interessante e fiquei feliz de ele ter aceitado o convite”, menciona.

No caso de Eduardo Gudin, Paulinho destaca que “Ainda mais” é um samba também muito ouvido no Rio. “Conhecemos há muito tempo. As vezes nos juntamos para conversar. Tenho um carinho muito especial. Ele é da minha geração. Temos uma afinidade grande”, declara.

Paulinho da Viola, com essas palavras nobres e afetuosas, vai chamando São Paulo ao seu palco. Uma distinção reservada a poucos.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo