Cultura
Tulipa Ruiz: “O Brasil tem questões profundas e vive situação absurda”
Cantora, que tem feito shows com João Donato, vê resistência na arte
Tulipa Ruiz vem se apresentando ao lado de João Donato, fruto de uma parceria que começou em 2015, quando o pianista cantou e tocou na faixa Tafetá (dela com o irmão Gustavo) do elogiado álbum Dancê da cantora.
Esse ano eles gravaram mais duas músicas e lançaram tanto nas plataformas digitais como em vinil.
A música Gravidade Zero é uma composição de ambos com muita bossa. A outra, chamada Manjericão, é de Tulipa e Gustavo, e tem a participação do rapper Edgar.
“Nos ensaios e shows a gente inventa algumas coisas. Nos divertimos. Fico muito feliz e honrada”, conta a cantora sobre as apresentações ao lado de um dos pioneiros da Bossa Nova.
Tulipa Ruiz projeta um álbum novo ano que vem, o quinto da carreira. O processo será como os outros, com parte importante desenvolvida ao longo de sua produção.
“Efêmera (2010) não tinha a música título nem o próprio título até o fim das gravações. Tudo Tanto (2012) foi sendo criado durante os ensaios. O título eu sonhei e a capa apareceu na última hora”, diz.
“Os arranjos de Dancê foram feitos com a banda durante um retiro musical em um sítio”. Tu (2017), seu último álbum, teve execução e produção em conjunto com sua equipe no momento da gravação.
Antes de entrar no estúdio para o próximo trabalho, ela e Gustavo passarão um mês em uma residência artística na China, onde farão shows em diversos teatros pelo país.
Momento preocupante
A cantora, compositora e ilustradora (costuma se envolver na produção da capa de seus trabalhos) é conhecida também pelo seu engajamento político, quase uma exceção no meio. Mas não vê apatia do segmento artístico com o desmonte da cultura promovido pelo atual governo.
“As pessoas estão atônitas com o conjunto de medidas que desfavorecem não apenas a produção cultural, mas o meio ambiente, a educação, a saúde. No campo da arte, há menos mecanismos de fomento, shows, oportunidades para movimentar a indústria cultural”, afirma.
“Vejo muita gente fazendo arte de uma maneira posicionada, na trincheira, com espírito de resistência e claramente em defesa da democracia e da liberdade. Não precisa de palavra de ordem para isso”.
Sem ter ainda uma opinião de como fazer a situação mudar, comenta ver certo movimento acontecendo e se fortalecendo na sociedade.
“O país tem questões muito profundas e vive uma situação absurda. Temos milhões de desempregados, desigualdades aumentando.”
E acredita que é necessário que os interessados em mudar continuem “conectados, atentos, ligados em redes”. O momento é de reunir forças.
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