Diversidade

A diversidade desafia os ‘muros’ de Trump nas eleições dos EUA

Mulheres latinas, indígenas, muçulmanas e negras puxam a retomada democrata – e pela primeira vez um homem assumidamente gay vence para governador

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Donald Trump e os eleitores americanos parecem viver crenças opostas. Trump se recusa a reconhecer o Mês do Orgulho Gay, comemorado em junho, e um de seus ministérios questiona alguns direitos conquistados pela população trans.

Em resposta, os eleitores americanos elegeram Jared Polis, no estado do Colorado. Jared é casado com Marlon, com quem tem dois filhos. É o primeiro candidato abertamente gay a vencer as eleições a governador.

Trump sonha em construir um muro entre as fronteiras dos Estados Unidos e México. Duas latinas democratas – Veronica Escobar e Sylvia Garcia – representarão o Texas no Congresso pela primeira vez na história.

Michael Cohen, ex-advogado e ex-confidente de Trump, contou recentemente à imprensa americana que antes das eleições o político usava frases racistas. Eram ofensas como “pessoas negras são muito estúpidas para votarem em mim” e “me mostre um país governado por um negro que não seja uma porcaria”. Massachusetts e Connecticut deram a vitória, pela primeira vez, a duas mulheres negras: Ayanna Pressley e Jahana Hayes.

Durante sua campanha, em 2016, Trump prometeu barrar a entrada de muçulmanos ao país. E sugeriu que todos eram violentos por natureza. As democratas muçulmanas Rashida Tlaib, filha de palestinos, e Ilhan Omar, nascida na Somália, farão parte da Câmara pelos próximos anos, representando Michigan e Minnesota, respectivamente.

Trump propôs um corte de 300 milhões de dólares da área de assuntos indígenas, do Departamento do Interior, e aprovou a construção de um oleoduto que passaria próximo a reservas indígenas. Pela primeira vez na história, duas indígenas – Deborah Haaland e Sharice David – foram eleitas para o Congresso.

Considerado como um referendo de avaliação do governo federal, o resultado das eleições na Câmara pode indicar um descontentamento da população com as ideias de Trump. Ainda que tenham perdido representatividade no Senado (com sete lugares a menos), os democratas ganharam 26 cadeiras na Câmara e agora são maioria por lá.

E essa onda democrata no Congresso veio carregada pela diversidade – principalmente entre as mulheres, como mostram as vitórias de indígenas, negras, gays, latinas muçulmanas.

Um total de 237 mulheres disputou uma das 435 vagas da Câmara, maior número de candidatas já registrado. Ao menos 95 delas foram eleitas, superando o recorde de 84 congressistas da legislatura atual. Mais de 80 das vencedoras das urnas são do partido do ex-presidente Barack Obama. Ou seja, quase um quarto da Câmara terá um rosto feminino.

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Além do número recorde de candidatas, muitas delas derrotaram homens brancos nas primárias de seus partidos. Elas também conseguiram mobilizar o eleitorado e desempenharam maior papel como doadoras que em eleições anteriores.

Essa tomada feminina não veio à toa. Após a vitória de Trump, mulheres saíram às ruas de Washington e de outras cidades do país para protestar contra a posse do presidente republicano.

Em dezenas de entrevistas, candidatas e eleitoras do Partido Democrata disseram à agência de notícias Reuters ter a percepção de que o Congresso abordava assuntos importantes para elas – incluindo educação, saúde, controle de armas e imigração.

Muitas também citaram como impulso para entrar para a política o movimento #MeToo contra o assédio sexual, a eleição de Trump para a presidência apesar de ser alvo de uma série de acusações de má conduta sexual e a confirmação do juiz Brett Kavanaugh, também acusado de assédio, como integrante da Suprema Corte.

No Brasil, embora candidatos ligados à ultradireita tenham crescido neste último pleito, também tivemos pequenas vitórias da representatividade – e uma série de “pela primeira vez”.

Pela primeira vez, mulheres trans ocupam cargos legislativos. Pela primeira vez, uma mulher indígena venceu para deputada federal. Pela primeira vez, um candidato assumidamente gay virou senador. E, pela primeira vez, as mulheres ocuparão 15% dos cargos – um número recorde, ainda que esteja longe do ideal.

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