Diversidade

Destaque do Carnaval vai para críticas aos governos

Mídia internacional destaca como a nova onda de conservadorismo influencia a primeira folia de Momo da era Bolsonaro

(Foto: Mauro Pimentel/ AFP)
Apoie Siga-nos no

Ao contrário do apelo às “musas” e celebridades na cobertura local do carnaval, a folia de Momo costuma ser noticiada no exterior como uma festa de cores, humor e liberdade. Neste ano, porém, as reportagens da imprensa internacional também mostram como os foliões cariocas lidam com a nova onda de conservadorismo no primeiro Carnaval da era Bolsonaro.

Matéria da agência Associated Press, reproduzida pelo jornal The New York Times, afirma que o mundialmente famoso Carnaval do Rio de Janeiro começou sob expectativa de críticas contra Jair Bolsonaro, “o presidente de extrema direita conhecido por ofender a comunidade LGBT e minorias”.

Um destaque é o Bloco das Carmelitas, cujo enredo Azul ou rosa é tudo igual fez referência à ministra da Mulher, Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Uma das participantes do bloco entrevistada pelo autor diz que o desfile do grupo “é um ato de resistência contra o novo governo opressor”.

A reportagem destaca que muitas das fantasias fazem referências aos escândalos dos candidatos laranjas do partido de Bolsonaro.”Vinicius Alves, um estudante universitário, usava uma fantasia laranja, com uma faixa na cabeça adornada com dinheiro falso e fatias de laranja”, descreve a matéria.

Corte de verbas

Também é citado o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, que não compareceu para entregar a chave da cidade ao Rei Momo e tem cortado as verbas para a realização do Carnaval na capital fluminense. “O evangélico Crivella fez comentários negativos sobre as religiões de raízes africanas, praticadas por muitos brasileiros e que têm uma grande influência cultural nas celebrações do Carnaval”, diz o texto.

“Desde que o ex-pastor evangélico Marcelo Crivella se tornou o prefeito do Rio em 2016, as verbas municipais para as escolas de samba foram cortadas pela metade”, informa a matéria da agência de notícias francesa AFP.

O texto afirma que “em meio a uma onda conservadora que levou o extremista de direita Jair Bolsonaro ao poder, o Carnaval deste ano no Rio vai mostrar desfiles irreverentes, destacando o papel das mulheres, negros e indígenas no Brasil“.

A matéria dá como exemplos os enredos de algumas grandes escolas de samba, como a Portela, que homenageia a cantora Clara Nunes, tematizando a força da mulher, a tolerância religiosa e enaltecendo as religiões afro-brasileiras. A Mangueira é outra escola citada, com seu samba sobre a história das minorias no Brasil, a agremiação lembra Marielle Franco, vereadora do PSOL assassinada no ano passado.

Gays e lésbicas com medo

Em artigo veiculado da homepage da ARD, a principal televisão estatal alemã, o correspondente da emissora na América Latina afirma que nesse Carnaval gays e lésbicas têm medo de festejar abertamente nas ruas, por causa do novo presidente.

“Em vez de uma maior aceitação, os homossexuais enfrentam ventos contrários. Especialmente desde a eleição do atual presidente Jair Bolsonaro no ano passado”, afirma o texto. “Ele discursava obcecadamente contra gays e lésbicas. Dizia que eles queriam destruir a família tradicional e até que tentavam reeducar crianças pequenas, torná-las homossexuais – tais acusações foram os principais pilares de sua campanha eleitoral.”

A consequência pode ser sentida na atmosfera desde Carnaval, segundo a reportagem. “O clima mudou, dizem muitos aqui. Como resultado, a homofobia e o preconceito tornaram-se socialmente aceitáveis novamente.”

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo