Mudança no algoritmo do Google impacta proprietários de pequenas empresas online

Mudanças com o objetivo de filtrar conteúdo e eliminar spam afetaram diretamente pequenos sites que vivem de vendas online

(FILES) In this file photo a Google logo is seen on the brand's stand ahead of the annual meeting of the World Economic Forum (WEF) in Davos, on January 20, 2020. - The US government was preparing to sue Google on October 20, 2020 in what would be the biggest antitrust case in decades, a judicial source familiar with the matter told AFP. The Wall Street Journal and New York Times reported earlier that the Justice Department suit will accuse the California tech giant of illegal monopoly behavior to preserve its dominance in internet search and advertising. (Photo by Fabrice COFFRINI / AFP)

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As mudanças que o Google introduziu em seu algoritmo de busca e filtros de spam, no início deste ano, tinham como objetivo eliminar conteúdo de baixa qualidade, mas os efeitos foram devastadores para alguns sites que vivem de vendas online.

As pequenas empresas foram forçadas a demitir e até fechar depois que a grande atualização do Google, em março e abril, causou quedas catastróficas no tráfego de seus sites de vendas.

Gisele Navarro, uma argentina de 37 anos, é uma das desafortunadas cujo site foi pego na ação do Google. Esta pequena empresária fundou com o marido o site HouseFresh, especializado em coletar avaliações de purificadores de ar desde 2020.

Não havia anúncios ou promoções de produtos e eles não faziam concessões: se um produto fosse ruim, os revisores do site diziam isso.

O negócio deles era ganhar comissões pelos cliques dos clientes quando eles acessavam a Amazon.

No entanto, a atualização do Google mudou isso.


“Descobrimos que deixamos de estar em primeiro lugar – porque éramos um dos poucos que realmente faziam críticas – e nem sequer aparecíamos”, disse Gisele Navarro à AFP.

HouseFresh costumava receber cerca de 4.000 referências de pesquisas do Google todos os dias, mas esse tráfego caiu para cerca de 200.

Grande confusão

A queda no tráfego foi tão brutal que Navarro explica que foi aconselhada a fechar o site e começar do zero com um novo domínio.

A frustração de Navarro e de muitos outros sites decorre da falta de clareza sobre como o Google classifica os resultados.

A empresa americana é conhecida pelo sigilo que envolve seu algoritmo, a tal ponto que surgiu todo um setor conhecido como SEO (“search engine optimization”, otimização para motores de busca, em português) que tenta manipular essa fórmula para obter mais cliques.

A última atualização deixou os especialistas em SEO em um estado de grande confusão, tentando desesperadamente entender por que alguns sites se beneficiaram com as mudanças e outros foram prejudicados.

O Google disse à AFP por e-mail que sua atualização foi projetada especificamente para fornecer aos usuários “menos resultados que pareçam ter sido feitos para mecanismos de busca”.

“As únicas mudanças que estamos lançando são aquelas que nossos experimentos mostraram que melhorarão significativamente os resultados para as pessoas. E achamos que essas atualizações foram úteis”, disse o Google.

No entanto, Navarro mostrou, num post de blog amplamente lido em maio, que as pessoas que procuravam análises de produtos recebiam cada vez mais anúncios e conteúdos que pareciam ser gerados por inteligência artificial ou maximizados através de SEO.

Aprender com o outros

Os usuários que visitam sites como Reddit e Quora também se beneficiaram com a atualização do Google.

O Google defendeu essa abordagem dizendo que “muitas vezes as pessoas querem aprender com as experiências dos outros”.

“Realizamos testes rigorosos para garantir que os resultados sejam úteis e de alta qualidade”, acrescentou.


No entanto, a equipe de um site de notícias europeu disse que seus artigos eram agora sistematicamente superados em número pelo conteúdo amplamente irrelevante do Reddit.

O editor do site, que pediu anonimato devido à natureza delicada do tema, disse que o tráfego redirecionado das buscas do Google caiu de 20% a 30% desde a atualização, e que os cortes seriam inevitáveis.

“Em um mercado já difícil, este é um problema sério para editoras independentes como nós”, disse ele.

Todos os empresários com quem a AFP falou disseram que procuram urgentemente formas de não depender tanto das pesquisas do Google, seja escrevendo newsletters, fazendo podcasts ou tentando encontrar outras formas de atrair público.

O chefe de um site de notícias especializado em finanças e tecnologia, que falou à AFP sob condição de anonimato por medo de efeitos adversos em seus negócios, disse que todos os seus concorrentes usam empresas de SEO “para comprar tráfego”.

“Não fazemos isso, mas está cada vez mais difícil manter essa posição, já que esses sites não caíram tanto quanto nós após a atualização do Google”, acrescentou.

Navarro, que teve que reduzir drasticamente o seu quadro de funcionários, decidiu reorientar a sua estratégia de negócios para análises de vídeos e newsletters para tentar se reconectar com seu público.

E, apesar da experiência traumática com o Google, ela continua confiando na web.

As mensagens de apoio são numerosas e as referências de mecanismos de busca alternativos como o DuckDuckGo aumentaram.

“Todo o conhecimento da humanidade está na web e isso é importante”, disse.

“Não quero desistir só porque o Google falhou conosco.”

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