Economia

Encomendado por Temer, estudo do Banco Mundial defende reforma da Previdência

Governo encomendou relatório que aponta cortes de gastos que levariam a uma economia de 8,36% do PIB em 10 anos: 1,8% viria da reforma da Previdência

Encomendado por Temer, estudo do Banco Mundial defende reforma da Previdência
Encomendado por Temer, estudo do Banco Mundial defende reforma da Previdência
Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, apresentou as conclusões do Banco Mundial em Brasília
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O governo brasileiro gasta mais do que pode e, além disso, gasta mal. Essa é a principal conclusão do relatório Um ajuste justo, encomendado pelo governo federal ao Banco Mundial e divulgado nesta terça-feira 21. Segundo o organismo internacional, uma série de medidas de contenção de despesas poderiam produzir uma economia de até 8,3% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2026, já considerando esforços feitos também por Estados e municípios.

O levantamento mostrou que a queda de receita, a recessão econômica e o crescimento dos gastos tributários resultaram em déficit anuais superiores a 5% do PIB em 2015 e 2016. Além disso, a dívida pública saltou de 51,5% para 73% do PIB nos últimos cinco anos.

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Para cumprir o teto dos gastos, que foi aprovado pelo governo no final de 2016, os gastos precisam ser reduzidos em 0,6% do PIB ao ano em relação à tendência atual durante a próxima década. A medida representa um corte cumulativo de quase 25% nas despesas obrigatórias e discricionárias.

Ao todo, o Banco Mundial sugere ajustes em oito pontos, entre eles educação, saúde, mercado de trabalho e assistência social. Mas, às vésperas de uma nova tentativa de votar a reforma da Previdência, chama a atenção a economia de 1,8% do PIB que viria justamente do item “reforma do sistema previdenciário”.  

Diante da necessidade de cortes sugerida pelo Banco Mundial, o relatório conclui que o teto só será cumprido se houver um “rigoroso exercício de priorização”, o que deve passar pela mudança na legislação da Previdência Social. “A fonte mais importante de economia fiscal de longo prazo é a reforma previdenciária”, aponta o relatório.

Segundo o levantamento, o atual sistema é injusto, porque 35% do volume de recursos vão para os 20% mais ricos, enquanto 18% dos subsídios vão para os 40% mais pobres. Apesar da iniciativa do governo federal em implementar a reforma da Previdência, o banco destacou que serão necessárias medidas adicionais para diminuir os déficits do sistema previdenciários.

No capítulo dedicado à Previdência, o Banco Mundial afirma que, para padrões internacionais, o Brasil gasta muito em benefícios previdenciários, embora sua população ainda seja relativamente jovem, valor que aumentará drasticamente ao longo das próximas décadas, pois o número de idosos crescerá rapidamente.

Para o Banco, na ausência de uma reforma, até 2030 o gasto primário total federal previsto na nova regra de gastos (o teto) teria de ser usado somente para pagar a Previdência. A reforma previdenciária proposta pelo governo, de acordo com o estudo, reduziria o déficit do sistema previdenciário pela metade ao longo dos próximos 50 anos e economizaria cerca de 2% do PIB durante a próxima década. “Essa economia é um componente fundamental de qualquer estratégia de ajuste fiscal confiável. A reforma da previdência é necessária não só para reduzir os custos fiscais, mas também para tornar o sistema previdenciário mais equitativo”, defende o Banco Mundial.

O discurso corrobora as alterações que o relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA), fará no texto para que ele seja melhor aceito pelos parlamentares. De acordo com informações do jornal Correio Braziliense, a ideia é que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 287 seja reduzida ao máximo e foque em questões essenciais para manter o “corte de privilégios”, como idade mínima de 65 anos, para homens, e 62, para mulheres, além de equiparação de regras entre iniciativa privada e serviço público. O restante deve ser complementado por projetos de leis e outras proposições, inclusive novas PECs. O governo quer garantir a aprovação em 6 de dezembro no plenário da Casa, data prevista pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Outro ponto polêmico tocado pelo Banco Mundial é o custo da previdência do funcionalismo público. No início do mês, após encontro com o presidente Michel Temer, o deputado federal e vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS) afirmou que o grande prejuízo da previdência brasileira é a área pública, principalmente dos altos salários: juízes, promotores, fiscais, advogados da União, deputados, senadores.

O relatório o Banco Mundial lembra que na Previdência dos servidores públicos, os civis que entraram antes de 2003 são, atualmente, agraciados com pacotes de aposentadorias muito mais generosos. Então, enquanto o sistema federal vai se equilibrar no longo prazo, no curto e médio prazo, um grande déficit vai continuar a existir graças as aposentadorias dos servidores civis pré-2003, o que vai pesar nos pagadores de impostos pelas próximas duas décadas. Aliadas aos gastos com o sistema público federal, as despesas previdenciárias totais em nível federal comprometerão toda a despesa governamental prevista no âmbito do teto de gastos até 2030.

O documento apresentado pelo Banco Mundial compara a despesa a aposentadoria de servidores no Brasil e em parte dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne os países mais industrializados do mundo e alguns emergentes. O gasto é considerado alto pelo Banco Mundial, chegando a 4% do PIB e supera o de todos os países listados, entre eles Chile, México e Turquia

Cortes em políticas sociais

Para além da Previdência, o Banco Mundial também defende como medida para melhorar a qualidade do gasto público o congelamento de salários do funcionalismo público e a extensão do Fies e do Prouni para os alunos das universidades públicas, com o fim da gratuidade nessas instituições.

Na educação, haveria espaço para economia reduzindo o número de professores em regiões do país onde há cada vez menos crianças em razão da mudança demográfica (envelhecimento da população).

Programas sociais, como o abono salarial e o salário família, poderiam ser reformulados e redesenhados, gerando economia de 1,3% do PIB. Um exemplo de mudança sugerida seria a integração de diversos programas sociais, como a aposentadoria rural, o BPC (aposentadoria para a população urbana pobre) e o salário família em um único balcão de assistência, nos moldes da experiência bem-sucedida de integração do bolsa família, que reuniu programas como o bolsa escola e o vale-leite no início do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Há, ainda, sugestões para no âmbito tributário, como a reforma do Simples, a eliminação da desoneração da folha de pagamento e a reforma da Zona Franca de Manaus, para “uma alternativa menos distorciva e custosa”.

 

 

 

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