Economia

As declarações de Serraglio e a função social da terra

José de Souza Martins contrapõe-se ao atual ministro da Justiça ao explicar a importância dos territórios nas diversas culturas e etnias

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Apesar da subordinação aos interesses e linha editorial das Organizações Globo, nítida depois que a família Frias, dona da Folha de São Paulo, vendeu sua participação no Valor, encontro no suplemento “Eu & Fim de Semana” ótima novidade: coluna semanal assinada pelo professor e sociólogo José de Souza Martins. Nos barracões da Ciências Sociais USP, foi quem me ensinou a usar lupa para melhor entender o meio rural brasileiro.

Em artigo de 24/03, “Barriga de índio, barriga de ministro”, explica a função social da terra nas diversas culturas e etnias, contrapondo-se ao atual ministro da Justiça, Osmar Serraglio, ruralista flagrado pela Polícia Federal chamando de “grande chefe” o superintendente do Ministério da Agricultura do Paraná, acusado na Operação Carne Fraca.

E o que disse o justiceiro? Justificou a inutilidade da demarcação de terras indígenas, pois elas não enchem barriga. Não só de índios, ministro. Também de caras-pálidas.

A expressão é burra, pobre, descabida. Souza Martins não precisou de muito esforço: “Sabem os índios que não as demarcar é torna-las vulneráveis à rapina de grileiros e especuladores, ladrões de terra alheia (…) Os índios carecem da urgente demarcação de seus territórios não para encher barriga, mas para sobreviver como povos, preservar sua identidade e seu modo de vida (…)”.

Papa Francisco  

Excepcional. Fala em contraposição ao ideário econômico neoliberal que exclui da cidadania milhões de pessoas no planeta e se faz pior na Federação de Corporações.

Eu cético, agnóstico, ateu, nada disso, tanto faz, quando o ouço falar contra injustiças sociais e rentismo da forma incisiva que faz, me encanto, como quando entendi Cristo e Marx, jovem educado por beneditinos.

“Os rios não bebem sua própria água; as árvores não comem seus próprios frutos. O sol não brilha para si mesmo; e as flores não espalham sua fragrância para si. Viver para os outros é uma regra da natureza. (…) A vida é boa quando você está feliz; mas a vida é muito melhor quando os outros estão felizes por sua causa”.

Pois é, argentino simpático, torcedor do San Lorenzo, cuidado aí! Destes rincões tropicais, vejo muitos carolas desagradados com você. A cada sabedoria sua, torcem o nariz ou se calam. O mesmo que faz agora quem bateu panelas a favor do golpe. Que permaneça no Vaticano mais do que eu nesta vida, mordoma, como sobrevivo e sirvo.

Mais um professor

Tenho insistido em leituras de sérios historiadores, cientistas sociais e economistas estrangeiros e, ao mesmo tempo, menor, tenho escrito sobre as três décadas de mudanças no eixo hegemônico do capitalismo e aonde elas poderão levar o Brasil.

Nas folhas e telas cotidianas nacionais, lúcido me parece outro ex-professor, este na FGV, Luiz Carlos Bresser-Pereira.

Seu texto “Rentistas ou empresários” recebeu comentários imbecis nas redes sociais. Acham-no mais caduco do que eu. Por quê? Por ter largado as hostes tucanas ao perceber rumos reacionários? Se eu critico os erros petistas, por que ele não pode criticar os do PSDB?

“O capitalismo foi um capitalismo de empresários capitalistas e trabalhadores. Havia luta pela distribuição da renda entre eles – a luta de classes – porque os empresários eram liberais, mas havia também solidariedade, porque, como os trabalhadores, eram nacionalistas, porque sabiam que o mercado interno era seu grande ativo, que precisava ser protegido da cobiça do Ocidente.

A combinação dialética entre liberalismo e nacionalismo econômico ou desenvolvimentismo era o segredo político do capitalismo. Porque este envolvia um compromisso, uma coalizão de classes, cuja expressão maior e melhor foi a socialdemocracia”.

E continua, com a minha humilde assinatura embaixo:

“O capitalismo não é mais um capitalismo de empresários e trabalhadores, mas um capitalismo de rentistas, financistas e executivos das grandes empresas. O empresário é uma figura em extinção”.

Convivo com eles diariamente. No comando de seus mercados, chãos de fábricas e gestões parecem fantasmas; somente no de suas aplicações financeiras são reais.

Podem crer. A agroindústria está entrando nessa. Que a agropecuária não fique tentada por tal miragem.

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