Economia

O BNDES e a pesquisa no agronegócio

Economistas de instituições financeiras, analistas de planilhas, rentistas e agiotas esquecem o que significam o D e o S na sigla do banco

Resíduos dos setores sucroalcooleiro, pecuário, entre outros, poderiam reduzir à metade a demanda por macronutrientes e gerar 1 bi de dólares
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Como prometido, continuaremos tratando de três joias da Coroa. Não que não haja outras. Há, mas um tanto esquecidas nas folhas e telas cotidianas, dedicadas a discutir aritmética simples, dimensão da indústria naval e necessidade de provas documentais para definir posse.

Por bijuterias de quinta classe, vendidas sobre caixotes por camelôs, pusemo-nos a lutar e vamos quebrar o País. Faço simples, 600 mil reais e uma previdência equivalem aos mesmos bilhões somados por Temer, Aécio, Serra, Cunha e Cabral? Em pedalinhos de dois metros cabem os mesmos luxos e pessoas de iates de 100 pés? De quem é um apartamento mixo, numa praia brega, não registrado, dado pela construtora como garantia de empréstimos?

Curitiba conseguiu transferir Guarujá para o Mato Grosso do Sul. Como disse, bijuterias apenas para evitar que, em 2018, joia valiosa volte a ser exposta no Palácio do Planalto.

Os dois primeiros citados, Proálcool e Embrapa, foram criados pelos governos militares, ainda sob o modelo econômico de Getúlio. A terceira joia da Coroa, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), fundado em 1952, no segundo governo Vargas, na primeira fase do nacional-desenvolvimentismo junto com a não citada Petrobras (1953), talvez a mais importante joia, pois coberta por forte apoio dos movimentos populares contra os interesses das elites e do exterior.

A partir do momento em que o Partido dos Trabalhadores assumiu o Poder Executivo, estabeleceu-se no País um debate pobre que fez o BNDES ser questionado em várias de suas ações. O fato de os financiamentos terem saído de 10 bilhões de reais entre 2007/2010 para 60 bilhões de reais em 2016; aportes para o programa apelidado “Campeões Nacionais”; tentativa de tornar transnacionais cadeias produtivas com capacidade competitiva – por exemplo, o agronegócio; e mais recentemente a MP 777, imposição de Henrique Meirelles que substitui a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo, independente das variações da Selic) pela TLP (Taxa de Longo Prazo – por ela condicionada). Pretende-se, assim, diminuir os chamados subsídios implícitos.

Mas não é aí que eu entro com a joia. A discussão acima é assunto para economistas de instituições financeiras e bancárias, analistas de planilhas, rentistas e agiotas que esquecem o que significam o D e o S na sigla do banco. Para eles, recomendo conversarem com o economista norte-americano Joseph Stiglitz e a incansavelmente citada aqui, professora italiana em Sussex (UK), Mariana Mazzucato.

Do primeiro, tiro o seguinte: “quando a sociedade tem mais coesão e igualdade, até o 1% mais rico se beneficia (…) É errado dizer que o BNDES empresta a juros subsidiados pois, na verdade, o banco público aplica taxas razoáveis”. Ela, no livro The Entrepreneurial State, (Anthem Press, 2013), não poupa elogios às ações do BNDES como patrocinador da iniciativa privada brasileira. 

Não confundam as ações do BNDES no segundo mandato de Dilma Rousseff com o realizado anteriormente. Embora bem concebido, o programa “Campeões Nacionais” errou no timing internacional, favoreceu complexos não deficitários, pouco avançados tecnologicamente e administrados por pulhas. Se deu caso, foi policial e judiciário, tivemos estes, também, menos corruptos ao favorecer políticos de suas preferências.

Quando escrevo a coluna, o presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, que já demonstrou publicamente a lisura do órgão, afirma que terá menos recursos para investimentos.

Então tá, Meirelles. O senhor manda para o ralo o seguinte: técnicos e funcionários do BNDES – Vinícius Figueiredo, Felipe Pereira e André Cruz – apoiados por pesquisadores da Embrapa Solos e Suínos e Aves, publicaram, em março deste ano, o estudo Fertilizantes Organominerais de Resíduos do Agronegócio: Avaliação do Potencial Econômico Brasileiro.

Reconheço, de nada valerá o que eles estudaram ou eu escrevo: burros, continuarão, por medo, sendo enganados pela indústria multinacional de agroquímicos. Há vinte anos bato nesta tecla, o mesmo tempo em que erro a cifra da incompreensão. Alguns pontos para vocês discutirem e, na próxima coluna, eu voltar ao tema:

  1. A produção nacional de insumos agrícolas para a nutrição vegetal é dependente 80% de importações;
  2. Alguns setores do agronegócio produzem resíduos de forma que o proveniente desses rejeitos possam ser reaproveitados, reduzindo assim a destinação ambiental incorreta e reduzindo o custo de produção;
  3. Resíduos dos setores sucroalcooleiro, bovino, suíno e avicultor de corte, em cenário hipotético [PROJETOS PÚBLICO-PRIVADOS] poderiam reduzir à metade a demanda por macronutrientes (…) Um mercado potencial de 1 bilhão de dólares.

 

Não acreditam, né? Então tá. Volto ao assunto se Ronaldo Caiado, colunista da Folha de “agronegócios”, não me fizer mudar de ideia.

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