Por unanimidade, Copom mantém a Selic em 10,5%, a 2ª maior taxa real de juros no mundo

No encontro anterior, em maio, houve um racha de 5 votos a 4 no Comitê de Política Monetária do Banco Central

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Foto: Raphael Ribeiro/BCB

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O Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu nesta quarta-feira 19, por unanimidade, manter em 10,50% ao ano a taxa básica de juros, a Selic. Com isso, chega ao fim o ciclo de cortes iniciado em agosto de 2023.

No encontro anterior, em 8 de maio, houve um racha no Copom, com 5 votos a favor de uma redução de 0,25 ponto e 4 votos pela queda de 0,50. Os integrantes indicados ao BC pelo governo Lula (PT) votaram pelo corte mais expressivo.

Formam o Comitê quatro diretores indicados por Jair Bolsonaro (PL) – Roberto Campos Neto (presidente), Carolina Barros, Diogo Guillen, Otávio Damaso e Renato Gomes – e quatro escolhidos por Lula – Ailton de Aquino, Gabriel Galípolo, Paulo Picchetti e Rodrigo Teixeira.

Nesta quarta, todo o Copom optou por conservar o atual nível da Selic. Com isso, o Brasil fecha o dia como o segundo colocado na lista das mais altas taxas reais de juros, conforme um ranking atualizado pela consultoria MoneYou.

Em primeiro lugar na taxa real, cálculo que desconta a inflação, está a Rússia, com 8,91%, ante 6,79% do Brasil e 6,52% do México.

Completam a lista dos dez primeiros: Turquia (4,65%), Indonésia (4,13%), Hungria (3,60%), Coreia do Sul (3,04%), África do Sul (2,79%), Hong Kong (2,66%) e Colômbia (2,66%).


No comunicado em que divulgou a decisão desta quarta, o Banco Central afirmou que o ambiente externo segue adverso, devido à “incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países”.

Já no cenário doméstico, a alegação é que “o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado”.

Ao contrário do que ocorreu nos últimos meses, não há uma sinalização clara sobre o que o Comitê fará no próximo encontro.

Para André Modenesi, professor associado ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma preocupação com a economia americana pode, de fato, ter levado os quatro indicados por Lula a mudar o sentido dos votos, na comparação com a reunião anterior. “O fato econômico novo é esse. Aí, até que ponto pode haver algum outro tipo de interferência, a gente não tem como falar.”

A nova reunião do Copom terminou um dia depois de o presidente Lula criticar de modo enfático Roberto Campos Neto. Em entrevista à Rádio CBN, o petista disse que o comportamento do banco é a única “coisa desajustada neste País”.

Ao disparar contra a Selic, Lula declarou que Campos Neto “tem lado político” e “trabalha para prejudicar o País”. “Não tem explicação a taxa de juros estar como está”, acrescentou o presidente.

Já nesta quarta, o Partido dos Trabalhadores acionou a Justiça contra Campos Neto a fim de obrigá-lo a não se manifestar politicamente em eventos públicos. Na semana passada, o banqueiro esteve em uma sessão solene na Assembleia Legislativa de São Paulo ao lado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), potencial candidato a presidente em 2026.

Confira os resultados das reuniões anteriores do Copom desde o início do ciclo de reduções na Selic:

  • agosto: de 13,75% para 13,25%;
  • setembro: de 13,25% para 12,75%;
  • novembro: de 12,75% para 12,25%;
  • dezembro: de 12,25% para 11,75%;
  • janeiro: de 11,75% para 11,25%;
  • março: de 11,25% para 10,75%;
  • maio: de 10,75% para 10,50%.

Leia na íntegra o comunicado do Banco Central nesta quarta-feira:

Copom

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