Economia

Exportadores brasileiros temem calote da Rússia

No mercado internacional já se fala na possibilidade de algumas operações com a Rússia serem canalizadas para a China, numa espécie de triangulação e uma forma de fugir do boicote do sistema financeiro global Swift

Movimentação de contêineres com produtos no Porto de Paranaguá. Foto: Imprensa/GEPR
Apoie Siga-nos no

Exportadores brasileiros temem um calote relativo a produtos já exportados para a Rússia, contaram à Agência Nossa fontes diretamente ligadas às operações.

Devido às sanções financeiras e econômicas impostas o país de Vladimir Putin — que invadiu a Ucrânia — os empresários avaliam que podem ficar sem pagamento pelos embarques dos últimos meses.

“O comércio com a Rússia está praticamente parado. Ninguém fecha operação nesse momento, dada à volatilidade dos preços, do câmbio, do barril do petróleo, das commodities agrícolas e minerais. Além disso, ninguém sabe quem vai pagar o frete do navio que vai levar a carga até lá, quem vai pagar a mercadoria exportada; quem vai pagar o produto importado. O dinheiro da Rússia está bloqueado”, destaca o presidente da Associação Brasileira de Exportadores (AEB), José Augusto de Castro.

Exportadores brasileiros temem não receber por mercadorias já embarcadas àquele mercado. Lembram que nos primeiros dois meses deste ano, as exportações made in Brazil para a Rússia somaram US$ 503 milhões, com aumento de 231% frente a janeiro/fevereiro de 2021, um recorde para o período. O resultado deveu-se, principalmente, a incrementos nas vendas de soja e carnes (bovina, frango e suínos).

Contudo, no mercado internacional já se fala na possibilidade de algumas operações com a Rússia serem canalizadas para a China, numa espécie de triangulação e uma forma de fugir do boicote do sistema financeiro global Swift.

A Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, ou Swift, é um sistema de pagamentos rápidos além-fronteiras, transferindo trilhões de dólares por ano no que se tornou o principal mecanismo de financiamento do comércio internacional.

Os Estados Unidos e seus aliados bloquearam acesso de bancos russos ao sistema de pagamentos internacionais swift. Alguns bancos ficaram de fora da decisão, incluindo instituições responsáveis por compra e venda de petróleo e gás.

“O bloqueio é uma grande preocupação do setor, pois para realizar pagamentos será necessário utilizar um sistema que conecte os dois países. Além disso, a Rússia necessita de dólares, que é a moeda usada nas transações internacionais”, diz a pesquisadora na área de macroeconomia do  Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, Andreia Adami.

Ela destaca ainda o fato de as transportadoras marítimas terem reduzido suas operações, restringindo a movimentação de cargas.

Os valores totais exportados pelos brasileiros à Rússia somaram US$ 1,6 bilhão em 2021 e giram nesse patamar desde 2018, com vendas concentradas, principalmente, em produtos de origem agropecuária.

Fonte: Ministério da Economia/Secretaria de Comércio Exterior

Em 2021, a Rússia importou quase US$ 350 milhões de soja brasileira. Foi o carro chefe, com participação de 22% das vendas totais do Brasil para aquele mercado. Em seguida, vieram as carnes de frango, bovina e suína, com cerca de US$ 320 milhões, amendoim com US$ 130 milhões, açúcar, com receitas de US$ 127 milhões, e café, com US$ 50 milhões.

O presidente da AEB afirma, contudo, que, com base em conversas com exportadores, pelo lado da demanda não haverá dificuldade para remanejar mercados de destino para os alimentos brasileiros na própria Europa, Oriente Médio, Norte da África.

Até porque, em períodos de crise, os países tendem a aumentar seus estoques, preocupados com a segurança alimentar.

O maior gargalo, contudo, é do lado das importações. A Rússia é apenas o 36º maior comprador de produtos brasileiros, mas é o primeiro em exportações ao Brasil de produtos químicos e fertilizantes.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo