Economia

Greve dos caminhoneiros trava recuperação e PIB cresce 0,2% no 2º trimestre

Agropecuária ficou no zero a zero e Indústria encolheu 0,6%. Nos últimos 12 meses a economia brasileira acumula alta de 1,4%

Estradas bloqueadas paralisaram a produção: indústria encolheu 0,6% no 2º trimestre
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A greve dos caminhoneiros, que praticamente congelou a atividade econômica do País por onze dias no fim de maio, cobrou um preço alto da ainda suada recuperação da economia brasileira. Ela cresceu 0,2% no segundo trimestre na comparação com os três meses imediatamente anteriores, já considerando os ajustes sazonais. Os dados foram divulgados na manhã desta sexta-feira 31 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os dados desagregados apontam como a greve pesou sobre a produção brasileira. A agropecuária, vista como importante motores do crescimento – embora tímido – dos últimos trimestres, ficou no zero a zero de abril a julho, depois de crescer 1,4% nos primeiros três meses do ano. 

A indústria,que sofreu com a falta de matéria-prima e dificuldades de escoar a produção durante a greve, encolheu 0,6%. Já o setor de serviços teve alta de 0,3%, desempenho semelhante ao visto nos último trimestre. 

O número do IBGE veio melhor que o Índice de Atividade Econômica do Banco Central considerado a prévia do PIB, que indicava que a economia encolheria 0,99% no período. Na comparação com o segundo trimestre de 2017, o PIB cresceu 1%, quinto resultado positivo consecutivo nessa comparação. Nos últimos 12 meses a economia registra expansão de 1,4%.

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Pela ótica da demanda, a Despesa de Consumo das Famílias e a Despesa de Consumo do Governo tiveram variações positivas de, respectivamente, 0,1% e 0,5%. Já a Formação Bruta de Capital Fixo recuou 1,8% em relação ao trimestre imediatamente anterior.

Em um ano os dados são mais animadores. Na comparação com o mesmo período do ano passado,  Despesa de Consumo das Famílias cresceu 1,7%, o quinto trimestre seguido de avanço na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. Segundo o IBGE, o resultado pode ser explicado pelo comportamento dos indicadores de crédito para pessoa física, bem como das taxas de inflação e de juros mais baixas que as registradas no segundo trimestre de 2017.

A Formação Bruta de Capital Fixo, que mede o investimento das empresas, avançou 3,7% no segundo trimestre de 2018, o terceiro resultado positivo após 14 trimestres de recuo. Esse aumento se deve à alta na importação e na produção de bens de capital, já que a construção manteve desempenho negativo. A Despesa de Consumo do Governo variou 0,1% em relação ao segundo trimestre de 2017.

No setor externo, as Exportações de Bens e Serviços caíram 2,9%, enquanto as Importações expandiram 6,8% no segundo trimestre de 2018.

Se os novos dados não aliviam as tensões com a recuperação da economia, dados comemorados nos últimos trimestres pelo governo foram alterados para baixo. O IBGE revisou os últimos quatro resultados do PIB. No primeiro trimestre deste ano, ao invés de uma expansão de 0,4%, o crescimento foi de 0,1%.

No quarto trimestre do ano passado o resultado ficou estável (0%), ao contrário do crescimento de 0,2% anunciado anteriormente. Já no terceiro trimestre de 2017, o crescimento foi de 0,6%, maior que o divulgado à época, que foi de 0,3%. Já no segundo trimestre de 2017, o crescimento foi de 0,4%, e não de 0,6%.

Daqui para frente

No ano passado o Brasil cresceu apenas 1%. Antes disso, foram dois anos seguidos de uma recessão que fez a economia brasileira encolher 7% entre 2015 e 2016. Houve um suspiro de alívio em 2017, mas que ficou longe de repor as perdas da crise e levou a economia brasileira a recuperar apenas o mesmo patamar de 2011.

Além do comprometimento causado pela greve no segundo trimestre, outros fatores devem pesar sobre a recuperação do PIB que era esperada para 2018. A insegurança causada pelo período eleitoral compromete a confiança e a recente alta do dólar pesa sobre a inflação, comprometendo a recuperação do consumo das famílias.

Por enquanto a inflação está sob controle e deve ficar próxima do centro da meta de 4,5% para o ano. Mas com recordes sucessivos da cotação do dólar, que bateu os 4,20 reais, o BC está vigilante e realizando leilões para aliviar o câmbio.

Mas se as pressões inflacionárias persistirem, o Banco Central pode ser obrigado a rever a taxa Selic, hoje em 6,5%, o menor patamar desde 1986. Para este ano, o mercado ainda espera manutenção, mas para 2019 a expectativa é de que a Selic volte a crescer, terminando o ano em 8%.

Mesmo baixa, o corte da Selic não chega ao bolso do consumidor, que segue lidando com um crédito caro. Isso, aliado ao alto nível de endividamento das famílias, resultado do mercado de trabalho em baixa, pesa sobre o consumo.

Para o ano, expectativa do mercado é baixa: de acordo com o Relatório de Mercado Focus desta semana, o PIB deve crescer 1,47% neste ano. Há quatro semanas, a estimativa era de expansão de 1,5%. Para 2019 a expectativa é de alta de 2,5%.

No fim de julho, o próprio BC reduziu sua projeção para o PIB em 2018, de 2,6% para 1,6%. A instituição atribuiu a mudança na estimativa à frustração com a economia no início do ano. Em 20 de julho, o Ministério do Planejamento também atualizou sua projeção, de 2,5% para 1,6%.

Há duas semanas, foi a vez de o Banco Central informar que seu Índice de Atividade (IBC-Br) subiu 3,29% em junho ante maio, na série com ajuste sazonal. No acumulado do segundo trimestre, o indicador recuou 0,99%, impactado pela greve dos caminhoneiros.

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