Negociação de títulos chineses em moeda nacional avança no mundo

Papéis em renminbi integrarão o Índice Global Bloomberg Barclays, em mais um passo da internacionalização financeira da China

Renminbi (Foto: Wikimedia Commons)

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A Bloomberg, maior provedora mundial de informações e notícias financeiras, confirmou no domingo 31 a inclusão de títulos do governo e de bancos chineses denominados em renminbi no Índice Global Agregado Bloomberg Barclays, a principal medida de dívidas de países com grau de investimento. Os títulos denominados na moeda nacional da China serão o quarto maior componente do índice depois do dólar, do euro e do yen japonês. Um total de 636 títulos chineses representarão 6,03% dos 54,07 trilhões de dólares do Bloomberg Barclays.

“É um momento crucial no desenvolvimento dos mercados da China e a inclusão no nosso Índice Global Agregado é significativa por facilitar o acesso do mercado chinês aos investidores globais”, disse Steve Berkley, diretor global da Bloomberg Indices.

Jinping: a China dita seu próprio rumo (Foto: Wang Zhao/AFP)

A maior participação estrangeira em títulos do governo chinês é de cerca de 8%, muito pouco comparado aos 35% nos títulos dos EUA, chamou atenção um relatório do banco ANZ, mas “ser adicionado ao Índice Agregado Global Bloomberg Barclays irá mudar as coisas. O índice é amplamente monitorado por gestores de ativos em todo o mundo, o que significa que eles tentarão replicar as participações e o desempenho e ajustar os componentes de seus fundos para incluir títulos chineses.

Segundo a Black Rock, maior gestora de ativos do mundo, a inclusão no índice é mais um passo da internacionalização da moeda chinesa e a demanda pelos títulos em renminbi deverá aumentar.

“A inclusão é um marco importante, mostra que os mercados de capitais da China continuam a encontrar seu lugar no mainstream dos investimentos globais”, disse Justin Chan, co-diretor de mercados globais do HSBC na região Ásia-Pacífico.


Segundo a rede CNBC, estima-se que a inclusão atrairá cerca de 150 bilhões de dólares em ingressos estrangeiros para o mercado de títulos da China, que movimenta cerca de 13 trilhões de dólares e é o terceiro maior do mundo, depois dos EUA e do Japão.

Além do Índice Global Agregado, a dívida denominada em RMB chinesa será elegível para inclusão também nos Índices do Tesouro Global e EM Local Currency a partir de abril de 2019.

Vários outros provedores de índices importantes também estão considerando a possibilidade de adicionar títulos chineses a exemplo do JP Morgan Securities Market Index – Emerging Markets e o FTSE World Government Bond Index.

A inclusão do índice é o mais recente passo na abertura dos mercados financeiros da China aos investidores globais. No ano passado, as ações chinesas do tipo “A” denominadas na moeda nacional foram incluídas no Índice MSCI Emerging Markets. A China também lançou programas de conexão que permitem aos investidores comprar ações e títulos através do mercado de ações de Hong Kong.

De um ponto de vista mais amplo, a inclusão de títulos chineses denominados em renminbi no índice Bloomberg Barclays é mais um avanço do país em múltiplas frentes no contexto de um recuo relativo de Donald Trump por conta da proximidade das eleições presidenciais e ainda de dificuldades da economia dos Estados Unidos agravadas pela política de guerra comercial com a China, que não vem tendo os resultados imaginados pelo governo norte-americano.

Em outro exemplo da ofensiva, no mês passado o presidente Xi Jinping encabeçou visita diplomático-comercial à França, Itália e Luxemburgo e encomendou 300 aviões europeus Airbus, compra gigante simétrica àquela feita em 2017, antes da guerra comercial, de 300 aeronaves Boeing aos Estados Unidos.

Na frente geopolítica, a China enviou à Venezuela, pela primeira vez, soldados do Exército Vermelho em um avião com medicamentos e equipamentos e consolidou uma frente com a Rússia, presente há mais tempo no país latino-americano com militares e também armamentos. O movimento de Pequim complica o plano discutido abertamente em Washington de invadir o país presidido por Nicolás Maduro.

 

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