O BC tem dono

O consórcio mercado-mídia age para condicionar a escolha do novo presidente da instituição

Campos Neto quer decidir no lugar de Lula – Imagem: Marcelo Camargo/ABR

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Com a ansiedade elevada pela perspectiva de substituição, em dezembro, do presidente e de parte da diretoria do Banco Central, que passaria a ter uma maioria indicada pelo presidente Lula, e de olho nas eleições municipais em outubro, uma preocupação com desdobramento no pleito presidencial de 2026, o consórcio mercado financeiro-mídia não quer nem ouvir falar de novas reduções das taxas de juro neste ano. Sensibilidade monetária à flor da pele, a turma range os dentes e emite declarações histéricas diante de qualquer flutuação da inflação, mesmo nos casos de variações mínimas, exibidas como um atestado de que a Selic não pode baixar. O truque visa distrair a atenção do público para proteger preventivamente os rendimentos generosos proporcionados pela maior taxa de juros real do mundo, instrumento principal utilizado pelo BC no combate à inflação, mesmo nas situações em que esta não é a medida adequada.

Faz parte do jogo de cartas marcadas minimizar notícias positivas sobre a economia, e nenhuma delas parece boa o suficiente para reduzir o pessimismo sob medida, inabalável, dos fazedores de dinheiro. A meta estratégica é enfraquecer o governo Lula, para aumentar as chances de escolha de um presidente do BC amigo do mercado e conquistar uma posição política o mais favorável possível para o sistema financeiro nas disputas eleitorais. Ou, no mínimo, constranger de antemão o nome mais cotado para substituir Roberto Campos Neto no comando da instituição, o economista Gabriel Galípolo, nomeado diretor de Política Monetária do banco em julho do ano passado e ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda.

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3 comentários

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 9 de junho de 2024 04h04
Infelizmente ocorreu no dia de hoje 8 de junho de 2024, o falecimento da professora Maria da Conceição Tavares aos 94 anos. Seu legado de críticas ao neoliberalismo, ao mercado, à mídia não foi de graça. Todas as suas considerações são pertinentes em relação ao seu pensamento desenvolvimentista e de redução às desigualdades para proporcionar um crescimento econômico do país e, ao mesmo tempo, reduzindo as desigualdades. Agora temos na presidência do Banco Central o senhor Roberto Campos Neto em estado terminal de mandato. Mas os neoliberais e os homens do Mercado se agitam e tentam uma terceira via no campo da política ou enfraquecer o governo Lula. Tomara que o presidente da República indique um presidente do BC alinhado a sua agenda política, desenvolvimentista de modo a gerar emprego e renda a reduzir as desigualdades e que o país pratique juros próximos dos países desenvolvidos, ou seja, próximo a zero, e que os senhores da Faria Lima façam o ostracismo físico e econômico para os paraísos fiscais de sua escolha e deixem o país em paz. E que a professora Maria da Conceição Tavares descanse em paz e que seus ensinamento sejam compreendidos pelos homens da mídia e do Mercado.
CESAR AUGUSTO HULSENDEGER 9 de junho de 2024 15h33
Essa PEC sacramenta o governo “semiparlamentarista” dos sonhos do moralismo plutocrata herdeiro do Brigadeiro: um presidente fantoche oriundo das hostes desse grupo um “primeiro-ministro encastelado no BC “independente”, ditando a politica governamental e um Congresso direitista dócil, entreguista e colaboracionista. Outra coisa: assim como os advogados, jornalistas são “tudologistas” que torcem argumentos para fazer valer suas teses. Sei do que falo: sou jornalista E advogado…
ADEMIR CRISTÓVAO GUNS 12 de junho de 2024 05h17
Carlos Drummond colocou magistralmente o procedimento operacional do sistema financeiro e político no caso do Brasil. Acresenta-se a fritura da extrema direita e direita na governança do país.

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