Economia

O dinheiro estrangeiro no agronegócio

Os capitais de fora e nativos têm papeis diferentes no setor

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No próximo dia 25 de novembro, em São Paulo, o evento Diálogos Capitais abordará temas ligados às exportações agrícolas. Infelizmente, na data, estarei em Andanças Capitais e não poderei comparecer.

Arrisco prever que mais do que as palavras soja, custo-Brasil, câmbio e financiamento, os participantes ouvirão o nome de um senhor alaranjado que acaba de vencer as eleições presidenciais nos EUA. Sobre o distinto escrevi coluna para CartaCapital, em 24 de março, com título Trump e o agronegócio brasileiro”. Lide: “alguns não percebem que Tio Sam é muito mais concorrente do que cliente de Macunaíma”.

E mais não digo nem preciso. Para o agronegócio brasileiro pouca diferença faria Hillary ou Donald. Para a paz mundial, creio o Bolsonaro gringo será pior.

De qualquer forma, venho alertando que mais pesa a subordinação que a agricultura mantém junto às tecnologias dos fabricantes de insumos do que os impedimentos protecionistas de nossos concorrentes. Assim, quem deve abrir os olhos são os campesinos, caboclos, sertanejos e ruralistas brasileiros.

Entre 2005 e 2015, o PIB do agronegócio brasileiro aumentou em quase 300 bilhões de reais, para 1,3 trilhão de reais, em taxa de 2,7% ao ano, para mim, até baixa diante de nosso potencial. Motivos houve: apostas equivocadas em baixa inovação tecnológica, desindustrialização, e escandalosa descida de calçolas para o sistema financeiro.

Assim mesmo a ‘colunagem nativa’ vive prestando loas ao fato de que, no Brasil, tudo vai mal exceção ao agronegócio. Comparam, comparam e comparam. Algo como chutar o cachorro morto dos demais setores, fora o rentismo.

“Em 2015, o PIB caiu desastrosos 3,8% enquanto agroindústria e produtores avançaram 1,8%”, citam analistas da revista. Ah, é? E se o câmbio não tivesse ajudado o resultado igualaria o lucro dos bancos?

Assim, “o agro é pop, o agro é tudo”. E também vaidoso, como deve ser o publicitário que bolou a campanha-Olodum. Sim, “Olodum tá hippie, Olodum tá pop. Olodum tá reggae, Olodum tá rock, Olodum pirou de vez. (Alegria Geral, Olodum)

A expressão “pergunta que não quer calar” é muito usada por nós. Dileto leitor recorre a ela: qual a participação do capital estrangeiro no agronegócio brasileiro?

Boa, mas difícil, sobretudo pelas intersecções no capital de sócios brasileiros, minoritários ou não. Sementes e raízes, no entanto, são origens e podem indicar crescimento de plantas fortes e sadias. Ou não.

É conveniente deixar de lado índices de aferição influenciados por conjunturas, estilos de gestão interna, pés mais pesados ou leves nas aplicações financeiras, no câmbio, se vocês me entendem. Daí descartar ativos, passivos, lucro, endividamento, liquidez corrente e ir direto à mais confiável e menos maquiada rubrica, a receita líquida.

A revista Globo Rural publicou o 12º Anuário do Agronegócio, com o desempenho das 500 maiores empresas do setor. Em 2015, a receita líquida delas atingiu 671 bilhões de reais, crescimento de 14% sobre o ano anterior. Não podem se queixar. O valor bruto da produção agropecuária brasileira (dentro da porteira) naquele ano foi 25% menor. Agregação de valor? Não só. Uma multidão de produtores rurais e pequenas e médias empresas que não é considerada no trabalho da revista.

Algumas informações poderão levar às pistas que conduzem à culpa do mordomo.

Cerca de 65% do faturamento total das 500 maiores pertencem a apenas 40 empresas (8%). Delas, 20 são nacionais (45% da receita líquida) e 20 estrangeiras (55%). Entre as primeiras, prevalecem alimentos, sobretudo carnes, e reflorestamento; nas de fora, máquinas e insumos.

Para mim, o mordomo já poderia ir confessando.

Bem, falamos de apenas 40 empresas entre 500 delas, mas de 2/3 do faturamento. Mas e quando a receita líquida vai abaixo dos 3 bilhões de reais anuais e chega nas demais 460?

Aí as brasileiras predominam. Garantem 75% do total da receita e se dedicam, principalmente, a atacado e varejo, cooperativas e bioenergia. As atividades estrangeiras são mais diversificadas, talvez na esperança de que o mercado cresça, nossas leis sejam mais friendly, e assim também elas se tornem gigantes.

O ex-ministro de Relações Exteriores Celso Amorim, sábio e experimentado intelectual, tem escrito ótimos artigos sobre nosso caminho de volta à mísera subordinação, com José Serra em seu lugar. Nada diferente do que venho escrevendo há anos em Terra Magazine, CartaCapital e Jornal GGN.

Vamo-nos ferrar em breve. Tomem tento, pois, meus compatriotas. Dunga? Façam prévias e arranjem um Tite para votar. Se houver eleições.

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