O vai-e-vem da indústria em 2013

Comenta-se que sem uma mudança drástica na paridade real-dólar, dificilmente o Brasil sairá do marasmo atual

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Para entender a razão de, em janeiro, a indústria ter apresentado um crescimento estimulante de 2,6%, e em fevereiro ter desabado 2,5%.

De fato, em janeiro aumentou a produção em 18 dos 27 setores industriais pesquisados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em fevereiro, houve queda em 15 setores.

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Segundo avaliação do IEDI (Instituto para o Desenvolvimento Industrial), o crescimento de janeiro foi puxado pelos setores de bens de capital e bens duráveis. No caso de bens de capital, a influência quase exclusivamente pela produzção de caminhões, puxado pela safra; no caso de bens duráveis, devido aos incentivos de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para veículos automotores.

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Em fevereiro a venda de bens de capital para transportes se manteve, devido à recomposição de estoques. Já a de bens duráveis caiu, com retração de 9,1% na produção de veículos automotivos, devido à perspectiva de fim da redução do IPI. Esta semana a Fazenda anunciou a prorrogação do incentivo. Assim, as revendas devem retomar os pedidos.


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Como mostra o IEDI, há fatores sazonais explicando a volatilidade da produção industrial no início do ano. Retirando esses fatores, observa-se ainda um cenário desfavorável à indústria. Os setores menos contaminados por fatores pontuais – como bens intermediários, semiduráveis e duráveis – o desempenho foi ruim no primeiro bimestre, com pequena melhora em relação a uma fase de crescimento quase nulo.

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A produção de bens intermediários aumentou 1,2% em janeiro, mas recuou 1,3% em fevereiro. A produção de bens semiduráveis e duráveis cresceu apenas 0,2% em janeiro e caiu 2,1% em fevereiro. No bimestre, as quedas foram respectivamente de 0,3% e de 1,5%.

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Ontem,  a CNI (Confederação Nacional da Indústria) reviu para baixo as projeções de crescimento do PIB para 2013.

O IEDI ainda acredita em resultados melhores para a indústria no primeiro semestre, fechando o ano com crescimento na maior parte dos setores, com destaque para o setor de bens de capital, de veículos automotores e, dentre os intermediários, dos segmentos de refino de petróleo e produção de álcool.

Mas tudo isso ainda dependendo do comportamento geral da economia brasileira e internacional.

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Saliente-se que 2012 foi tomado por medidas sucessivas de desoneração fiscal por parte da Fazenda. E ainda por uma redução expressiva na taxa Selic e uma melhoria no câmbio.

Mesmo assim a economia não logrou reagir.

A manutenção do ritmo de crescimento do consumo acabou comprometido pelo aumento expressivo das importações.


Ontem, em evento em São Paulo, o economista Yoshiaki Nakano reiterou um alerta que será cada vez mais intenso nos próximos anos: sem uma mudança drástica na paridade real-dólar, dificilmente o país sairá do marasmo atual.

Crescendo o consumo, aumentarão as importações. Crescendo as importações, aumentará a vulnerabilidade externa.

O Banco Central ainda está em posição confortável, podendo financiar os déficits externos com as reservas cambiais.

Mas apenas postergará um ajuste que, quanto mais tempo demorar para ser feito, mais custará para o futuro do país.

 

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