Economia

Os alimentos e a inflação

É preciso lembrar dos impactos da crise econômica para o campo

Sítio de pequeno agricultor em Ananindeua (PA)
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Esquisitão o comportamento do clima nas principais regiões produtoras agrícolas, não? Caboclos, campesinos e sertanejos apreensivos. Também os barões da “agricultura empresarial”, seja lá o que a idiotia em folhas e telas cotidianas queira dizer com o termo. Seria somente para diferenciar da agricultura familiar? Ah, mas muitas grandes empresas agrícolas não são ou se formaram de núcleos familiares? Vejam os laterais Joesley e Wesley. Não fizeram voltar ao comando Zé Mineiro, o patriarca e fundador do grupo Batista?

Ora, ora, apesar de viverem e morrerem com um século de diferença, Adam Smith (1723-1790) e Karl Marx (1816-1883), pudessem ter-se sentado num pub de Edimburgo para um pint, concordariam que a produção de mercadorias, depois de cobrir as necessidades primárias, leva o excedente às trocas, dada a elas valoração compatível com a renda do trabalho.

Reconheço ter sido raso como o meu amigo Pires, mas é assim que é. Outro genial Marx, o Groucho, não explicou Freud dizendo que muitas vezes um charuto é apenas um charuto?

Mas e aí? Noto todos felizes com os preços dos alimentos a manterem baixa a inflação. Agradecidos a Temer e Meirelles? O biquinho da pirâmide parece estar. Paga barato o quiabo e para a Bolsa de Valores abana o rabo. Fazem calmos os olhares de William e Renata, no Jornal Nacional.

Por que não entrevistar o velho Zé Cássio Bueno, em Itaí (SP), para saber a que rabo ele destinará sua produção de cebolas? Ou o senhor Tadashi Kimura que pensa vender o sítio, em Cajati (SP), a preço das bananas que muito produz e pouco vende? Como daqui a 30 dias virá o preço das reluzentes alcachofras disputadas entre de Piedade e São Roque, ambas no estado de São Paulo?

Tal conjuntura não é apenas paulista. Sugiro um papo com os produtores de uvas do Vale do São Francisco. Animados quando estive lá, já desanimados. Caíram as cargas de frutas para o sudeste e se aguentam com exportações.

Pô! O Brasil planta tudo o que nós comemos. Mas como comer com trágicos índices de desemprego, arrochos de salários, cortes de verbas em programas assistenciais, investimentos produtivos exíguos e pé no fundo do acelerador do rentismo, fazendo o desempenho da Bolsa de Valores mais “fake” que o relançamento do programa “Os Trapalhões”, pela TV Globo.

Talvez, não. Equivoco-me. Nenhum momento na história recente do Brasil seria mais adequado para relançar uma comédia com esse título.

Repetidas vezes, sobretudo em períodos de equipes econômicas neoliberais, derruba-se o consumo, não importa se supérfluos ou essenciais como os alimentos, para segurar a inflação. Usam aparelhos de tortura sobre empregos, salários e benefícios. Não é coincidência o mais usado ser o pau-de-arara.

Cria-se uma expectativa de controle e futura decolagem, mediante régio pagamento à mídia publicitária, sem se preocupar, talvez nem mesmo olhar, para as transformações que ocorrem no planeta, prováveis não justificarem ventos em nosso favor.

E “o povo meramente hipotético”, como escreveu o sociólogo José de Souza Martins (Valor, 30/06/17), vê “a representação política exercida como usurpação política. O eleito não é a pessoa que elegemos. Votamos em máscaras”. 

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