Economia

Os desafios do Brasil para voltar a crescer

Após estagnação, expectativas sobre 2015 são desanimadoras. Reconquistar a confiança de empresários, controlar inflação, seguir com ajuste fiscal e reequilibrar Orçamento são alguns dos desafios

O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) de 2014 é o pior do primeiro mandato de Dilma Rousseff
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Por Fernando Caulyt

Depois de o IBGE divulgar nesta sexta-feira 27 que o Produto Interno Bruto (2015) ficou praticamente estagnado em 2014, as expectativas para 2015 são pouco animadoras. O último Boletim Focus – pesquisa realizada semanalmente junto a instituições financeiras e economistas – prevê retração de 0,83% na economia brasileira neste ano.

Para especialistas ouvidos pela DW Brasil, para o país crescer, a presidente Dilma Rousseff terá, entre outros desafios: reconquistar a confiança de empresários, sinalizar que vai manter o ajuste fiscal, controlar a inflação e reequilibrar as contas públicas.

“Saímos de 2014 com um PIB que se desacelerou substancialmente e entramos em um ano em que o ajuste de demanda já começou, mas há ainda uma série de etapas a serem cumpridas”, afirma o economista Vinícius Botelho, da FGV/IBRE. “O PIB do primeiro trimestre de 2015 deve ficar próximo de zero e, com a confiança nos piores patamares, deve haver a continuação do processo de deterioração da economia.”

Botelho afirma diz que somente o ajuste fiscal não é necessário. Para ele, é necessária uma agenda regulatória e microeconômica para tentar retomar o crescimento brasileiro. “Houve muita intervenção nos preços, taxas de juros e funcionamento do mercado. É preciso devolver essa estabilidade para que os setores deslanchem”, afirma o especialista.

O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), da Confederação Nacional da Indústria (CNI), é um das taxas que estão em queda. Em março, o índice voltou a cair e registrou o menor patamar desde 1999, quando a pesquisa começou a ser feita. A taxa caiu para 37,5 pontos e está 19 pontos abaixo da média histórica. A venda de carros em fevereiro caiu 28,9% na comparação com o mesmo mês de 2014.

O ajuste fiscal de Joaquim Levy, ministro da Fazenda, em sua primeira etapa já contemplou cortes nos gastos de ministérios e investimentos, aumento de impostos e da taxa básica de juros. Além disso, deixou-se de gastar dinheiro para segurar o câmbio, deixando-o flutuante. Todas essas ações tiveram o objetivo de reequilibrar o Orçamento público, atingir a meta de superávit primário e manter a nota das agências de classificação de risco para a dívida do país.

“O aperto fiscal e a mudança da política monetária geram diversos efeitos na economia. Entre eles, a cessação de repasses a obras e serviços anteriormente contratados e os que seriam realizados, elevação da taxa básica de juros e redução na oferta de crédito “, afirma Marcos Sarmento Melo, professor de finanças do Ibmec/DF.

Para o especialista, tais medidas reduzem exponencialmente o volume de bens e serviços contratados. A empresa que não vende para o governo não compra insumos e serviços de outras, num efeito multiplicador na economia.

“A redução na oferta de crédito e o aumento das taxas de juros tornam menos rentáveis e atraentes os investimentos que poderiam ser feitos pelas empresas e tornam mais difícil para o consumidor adquirir bens”, afirma Melo.

A economia brasileira cresceu 0,1% em 2014, no pior resultado desde 2009, auge da crise econômica global, quando registrou uma retração de 0,2%. O resultado de 2014 é também o pior do governo Dilma Rousseff.

A taxa de crescimento é inferior à de 2013, quando o Brasil cresceu 2,7% – índice já revisado e divulgado também nesta segunda-feira. Originalmente, o PIB no período havia crescido 2,5%. Além do cálculo de 2014, o IBGE revisou também os dados dos dois anos anteriores. Em 2012, a taxa de crescimento passou de 1% para 1,8%; e em 2013, de 2,5% para 2,7%.

“A revisão da metodologia não ocorreu para favorecer os resultados do governo. Diversos países já vinham adotando tais correções metodológicas para padronizar comparações e tornar os números mais realistas”, diz Melo. “Os gastos em pesquisa e desenvolvimento foram tomados como investimentos com efeito de elevar o crescimento econômico, como de fato acontece. Isso não era anteriormente considerado no cálculo do PIB.”

Em relação aos setores da economia, a indústria teve queda de 1,2% em 2014. A agropecuária cresceu 0,4%, e os serviços, 0,7%. Já a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que representa os investimentos, diminuiu 4,4% em 2014 por conta do descrédito dos empresários na economia brasileira. Entre os motivos estão o aumento dos juros, crédito mais escasso e a piora do cenário fiscal do país.

Já o consumo das famílias (0,9%) e o consumo do governo (1,3%) aumentaram em relação a 2013, mas perderam fôlego. Os mesmos índices foram de 2,9% e 6,1% na comparação entre 2013 e 2012, já levando em conta a revisão do IBGE. Em 2014, o PIB fechou em 5,521 trilhões de reais. Um dos vilões do consumo das famílias é a pressão sobre a inflação.

O PIB per capita diminuiu pela primeira vez desde 2009 e registrou uma queda de 0,7%, para 27.229 reais. Houve recuo em 2014 porque o crescimento da população foi de 0,9%, ou seja, registrou um avanço superior ao da economia. Em 2013, o PIB per capita teve um crescimento de 1,8% em relação a 2012.

Em relação ao terceiro trimestre, o PIB do quarto trimestre de 2014 cresceu 0,3%, já levando em conta a revisão do governo. A agropecuária registrou um aumento de 1,8%, a indústria se manteve estável (-0,1%) e o setor de serviços teve alta de 0,3%. Em comparação ao quarto trimestre de 2013, o PIB variou -0,2% – a indústria recuou 1,9%, enquanto os serviços (0,4%) e a agropecuária (1,2%) aumentaram.

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