Editorial

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A origem do mal

O Brasil ainda sofre as consequências da mais torpe, velhaca, feroz escravidão do Ocidente autoproclamado civilizado e cristão

Na versão de Debret, Caim açoita Abel, para deleite do senhor do engenho – Imagem: Coleção Itaú Cultural
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Uma longa conversa com Umberto Eco marcou profundamente meus pensamentos. O encontro deu-se em São ­Paulo, na casa de um amigo. Éramos ambos jovens, ele com 36 anos, eu com dois a menos. Naquele momento, eu saía do Jornal da Tarde e ia para a Editora Abril dirigir aquela que ainda não era a Veja, por atravessar uma prolongada gestação, esticada de janeiro a setembro de 1968. Observei que a revista seria, sobretudo, de textos. Victor Civita, dono da Abril, determinou: “Então, colocaremos também em tipo muito menor e leia. Veja e leia fica muito bem”. E assim foi.

Volto à conversa com Eco, recomendou-me a leitura de um livro de ­Robert Knox, intitulado Iluminados e Carismáticos, história das grandes heresias a pontilharem a trajetória da Santa­ ­Romana Igreja. Esclareceu Eco: “Aludo, entre outras coisas, aos fanáticos do Apocalipse, que medram em todos os cantos e ainda pregam a desgraça”. Foi a premonição de eventos futuros fadados a abalar o mundo. Disse também que percebia no Brasil, como próprio das raí­zes nativas, um tormentoso humor inquietante e maligno. Aquilo me tocou e voltou várias vezes ao meu pensamento.

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